Metrópolis – um dos primeiros sucessos de Osamu Tezuka

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A arte original do mangá de Osamu Tezuka com o menino-robô Michi na capa

No início de sua carreira, Osamu Tezuka, o “deus do mangá”, publicou uma trilogia de ficção científica. Uma delas foi publicada no Brasil pela editora New POP nos idos de 2010. Metrópolis foi o segundo título dessa série de contos isolados e publicada originalmente em 15 de setembro de 1949 pela Editora Ikuei.

Durante uma conferência internacional de cientistas do ano 19XX, uma organização conhecida como Partido Red inicia suas experiências para conquistar o mundo. Seu líder leva a alcunha de Duque Red. Procurado pela polícia, deixou a parte da população inquieta por ser procurado por ter um “nariz imenso”. Visto que alguns cidadãos tem a mesma característica descrita – assim mesmo – no anúncio, causando a desconfiança entre a sociedade de Metrópolis. O peçonhento Duque Red é responsável pelo surgimentos de manchas solares. Tais anormalidades são uma espécie de fontes de vida para a existência de seus robôs e monstros.

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O mangá em sua versão brasileira pela editora NewPOP

Apesar do caos, o Dr. Lawton obtém êxito em sua criação de células artificiais. A comemoração é curta, pois Red e seus capangas o ameaçam e o intimidam a criar um humanoide artificial com habilidades de voar pelos céus e andar sob os mares. O rosto do novo ser artificial foi baseado numa estátua de mármore chamada de “anjo de Roma”. Temendo o domínio de sua criação, Lawton forja a destruição do robô e escapa com ele.

Lawton passou a criar o humanoide e o batizou como Michi. O nome escolhido foi devido ao seu rosto angelical (ou andrógeno) e por ser um nome comum tanto para homens quanto para mulheres. Michi não poderia sair na rua sem uma máscara dourada em seu rosto, para não ser percebido pelo Partido Red. Mesmo assim isso assustava as pessoas e tal causava muita tristeza para o menino-robô.

Um dia, Michi sai, ingenuamente, de casa e seu rosto chama atenção por se parecer com a tal estátua que lhe serviu de concepção. O Partido Red descobre rapidamente e o Duque vai ao encontro de Lawton, que é morto em seguida. Aos que assistirem o testamento em vídeo de Lawton, lhe serão confiados a guarda de Michi, bem como o segredo de seus poderes. Michi é criado pelo detetive Mustachio e seu sobrinho Kenichi. Mas o que eles não sabem é que Michi pode chegar a um ponto de se rebelar e dominar todos os robôs da cidade.

Metrópolis foi publicado pela Editora Ikuei afim de projetar o formato de mangás como se fosse um livro de verdade. Daí a ideia de Tezuka de criar uma saga de ficção científica com 160 páginas por edição. Havia a intenção do autor em publicar em cores. Um projeto audacioso que necessitaria mais tempo, o que obviamente não aconteceu.

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A revolta de Michi contra a humanidade

Tezuka baseou o conceito de homens-máquina através do filme alemão dirigido por Fritz Lang (1890~1976) que levava o mesmo nome, porém não tinha ligação alguma com a trama cinematográfica de 1927 que contava a história de uma garota-robô Maschinemensch. Tezuka jamais havia assistido ao filme e nunca foi atrás do roteiro, ao menos até a publicação do mangá, e teve a noção do enredo pela revista Kinema Jumbou. Especializada em cinema estrangeiro.

Segundo relatos do próprio “deus do mangá” em seu posfácio, a história foi feita de maneira arrastada e com maior duração. Uma das cenas finais teria um ataque de uma formiga gigante e não entrou para o conto pela quantidade de páginas já estar no limite. Por isso teve que cortar pedaços das cenas excluídas e as originais ficaram guardadas com ele.

Mesmo os leitores da época considerarem Lost World (1948) e Next World (1951) como obras importantes da tal trilogia a introduzir o gênero de ficção-científica, Tezuka tinha preferência por Metrópolis. Onde foi o início de sua paixão pela cultura americana. A capa original apresentava Duque Red numa performance noturna em um cenário carregado de referências a Manhattan e Chicago dos tempos de pré-Guerra. Além de Michi ser mostrado como uma garota carregando uma caixa com flores. A diferença entre a capa brasileira é que Red é apresentado em um fundo branco com quadro que remetem algumas cenas do mangá. Porém, sem a versão feminina de Michi. Provavelmente o cenário foi cortado na versão da NewPOP por conter menções às marcas RCA e Coca-Cola, para evitar cobrança de royalties.

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Maschinenmensch, a garota-robô do filme alemão Metrópolis, de 1927

Curiosamente: a história tem Sherlock Holmes como um dos personagens e uma das criaturas de Red é uma clara referência ao Mickey Mouse, com direito a um engraçadíssimo nome científico. Nada além que uma homenagem ao lendário Walt Disney.

Os mais aficionados pelas obras de Tezuka devem se atentar à versão de Michi, que mais tarde ganharia uma contraparte como a mãe de Astro Boy. Apesar de não ser tão lembrada, Michi é uma importante personagem do “Sistema Estrelar” criado por Tezuka.

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Michi na versão animê de Metrópolis

O clássico de Osamu Tezuka rendeu um filme animado em 2001 dirigido por Rintaro (o mesmo dos filmes da série Galaxy Express 999, de Leiji Matsumoto) e escrito por Katsuhiro Otomo (autor de Akira). Esta versão produzida pela Madhouse faz referência ao filme alemão de 1927 e contou com o apoio conceitual da Tezuka Productions.

Perto de se tornar um item raro no mercado brasileiro, Metrópolis continua atual e a genialidade de Tezuka retrata os malefícios da natureza e dos conflitos sociais causados pelos homens. Sempre respeitando raças e origens através dos conceitos da época. A reflexão é que a ciência pode ser destruída por ela mesmo, caso o homem não a utilize com sabedoria.


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