
Tudo bem que adaptações acabam limando uma coisa ou outra da obra original. Mas a coisa acaba não indo bem quando algo sai feito às pressas. É o caso do anime Saintia Shô. Escrevi aqui que o primeiro episódio foi um verdadeiro resumão do primeiro volume do mangá de Chimaki Kuori e parte da essência ficou perdida. Agora com o segundo episódio lançado nesta semana via Crunchyroll vimos algumas coisas fluindo naturalmente e outras que poderiam sair como está nas páginas.
Houve pelo menos dois problemas no episódio da semana. O primeiro é quando Shoko vai até uma cordilheira onde os Cavaleiros são treinados. Lá ela encontra Mayura e seus discípulos Mirai e Shinato. Mayura é uma amazona de prata (aposentada) da constelação de Pavão e é uma personagem importante na trama. No primeiro momento, ela foi imprescindível para o árduo treinamento de Shoko para se tornar uma Saintia e lutar contra sua essência maligna (já que ela é forte candidata a hospedeira da deusa Eris).
Para quem não leu o mangá, essa passagem teve um pouco mais de pressão por parte de Mirai e Shinato. O primeiro é aquele tipo de garoto chato que fica tirando sarro a todo custo. E o segundo não dispensa uma provocação do tipo “desista e vá embora daqui”. Típico dos animes dos anos 80 e 90. Tem mais: Shoko tenta explicar que conseguiu a armadura de Equuleus por delegação da deusa Athena. Mas os irmãos ainda acreditam que Athena está no santuário. Mayura aparece num determinado ponto dessa provação e daí começa o duro treinamento, que foi um pouco mais sofrido do que vimos na TV.

Outra problema é quando surge Toki, um aspirante a Cavaleiro que não conseguiu alcançar tal título. Ele é vítima da semente maligna que potencializa a impureza humana. Ao invés de ir diretamente ao encontro de Saori/Athena e ser impedido por Jabu de Unicórnio, a coisa acontece ao inverso no mangá. Jabu encontra Toki, que pensava antes ser um estranho. Ao reconhecê-lo, Toki diz para Jabu algo como “ainda balançando o rabinho para aquela mulher?”. Depois revela que não se tornou um Cavaleiro e que não precisa de armadura e que se tornou um fantasma para vingar da fundação Graad.
Esse furdúncio todo foi graças à dríade Emony de Malícia, uma gótica lolita de baixa estatura que carrega um urso de pelúcia chamado Mick. No anime ela aparece somente depois da derrota de Toki. Mas no mangá a personalidade espevitada da pequena dríade é um pouco mais trabalhada. Inclusive, Emony trava uma batalha contra Mii de Golfinho, que se mostra uma fiel escudeira da deusa Athena.
Quer dizer, falta um pouco mais de uma pegada oitentista que pode ser percebida na trama de Chimaki Kuori. Nem adianta dizer que “os tempos são outros” e tal. Uma referência do tipo não é mal nenhum e deixaria a história mais interessante na versão animada.
O segundo episódio cobriu cerca de 80% do segundo volume. Foi menos apressado que o episódio anterior, mas ainda longe do desejo da autora. O anime Saintia Shô continua aquém ao mangá.