
A RedeTV! exibiu uma única série tokusatsu em sua programação oficial e a última lançada na TV brasileira, até o momento. Madan Senki Ryukendo era uma produção da Takara Tomy exibida originalmente nas manhãs de domingo pelas emissoras TV Tokyo e TV Aichi entre 8 de janeiro e 31 de dezembro de 2006. Chegou ao Brasil quebrando um jejum de nove anos sem lançamento de uma série do gênero nas nossas telinhas.
A emissora de Alphaville havia exibido anteriormente as séries Jiraiya e Maskman ainda em fase experimental, quando os donos Amilcare Dallevo Jr. e Marcelo de Carvalho compraram as concessões da extinta Rede Manchete. Em fevereiro de 2000, a Record lançou Ultraman Tiga, porém nunca exibiu os episódios finais durante a primeira exibição nem nas breves reprises de 2001 e 2002 (ambas eram restritas para São Paulo). Houve ainda uma única exibição na Rede 21 entre 9 de maio e 7 de julho de 2005, com direito a exibição dos episódios finais que faltavam.
Licenciado pela Swen-Televix, Ryukendo foi adquirido pela RedeTV! no final de outubro de 2008. Segundo informações da época, o plano inicial era lançar a série em novembro daquele ano, depois foi adiado para dezembro e finalmente acertado para abril do ano seguinte.
A série conta a saga de Kenji Narukami, um jovem que se muda para a fictícia cidade de Akebono, onde está escondido o Ponto do Poder. Local onde se concentra uma grande quantidade de energias negativas. Tal força atrai os demônio do clã Jamanga, liderada pelo Dr. Worm. Jamanga reúne energias negativas dos habitantes de Akebono para ressuscitar o Fantasma Verde. Para combater o mal, a organização S.H.O.T. (Shoot Hell Obuduracy Trooperes) entram em ação. Ao ver a benevolência de Kenji, a espada mágica Gekiryuken o elege para se transformar em Ryukendo. Seu principal aliado é o atirador Juushirou Fudou/Ryuguno e mais tarde entra o solitário Koichi Shiranami/Ryujino.

A versão brasileira de Ryukendo foi realizada no estúdio paulista Centauro e a tradução foi baseada numa versão em espanhol. Cogitava-se na época que um fã de tokusatsu teria trabalhado no processo, mas até hoje a gente não sabe o seu paradeiro e muito menos a sua identidade. Nomes foram adaptados como Jamanga para “Yamanga”, Ryuguno para “Ryugouo”, Jack Moon para “Yack Moon” etc. Estranhezas à parte, a escalação das vozes foi ótima. Wendel “Goku” Bezerra emprestou sua voz marcante para o herói-título.
Segundo informações do site NaTelinha, a estreia cravou 4,7 pontos de média com picos de 5,4. Uma ótima audiência para os padrões da emissora que costumava registrar média de 3 pontos até então. A primeira semana teve cortes de cinco minutos por episódio para adaptar ao horário do extinto telejornal Notícias das 7 (que começava mesmo às 19h20). A duração original é de 25 minutos por episódio. Aliás, a série nunca teve breaks comerciais na RedeTV!. Mesmo ainda sendo anunciado para às 19h, o programa infantil estava começando com cinco minutos de antecedência.

A Focus Filmes anunciou o lançamento de Ryukendo em menos de um mês de exibição na TV. A primeira box estava programada inicialmente para 17 de junho e o material trazia os primeiros 13 episódios e mais uns cards. Mas como era “tradição” da distribuidora de home-video, Ryukendo foi adiado para 8 de julho. A versão do tema de abertura chegou a ser gravada por Ricardo Cruz, mas infelizmente acabou não sendo incluída no material em vídeo (veja a segunda parte da entrevista ao cantor no canal JBox TV).
Em 14 de maio, plena quinta-feira, a RedeTV! cancela o Notícias das 7 e Ryukendo passa a ser exibido às 19h25 – sem aviso. Na semana seguinte houve salto de alguns episódios para o momento onde Kenji Narukami se converte para o Deus Ryukendo. Isso fez com que a RedeTV! voltasse para o episódio que deveria ir ao ar regularmente e consequentemente houve a reprise desse mesmo episódio. Matematicamente era pro último episódio ser exibido em 23 de junho (terça-feira), mas essa mexida nos episódios acabou jogando o final para 26 de junho (sexta-feira).
A primeira reprise de Ryukendo começou em 29 de junho e ficou até o início de setembro. Houve mais algumas reprises nos anos seguintes em horário diurno.
Apesar do Guerreiro Madan figurar o Top 5 da RedeTV! naquela época, a série não era exibida em todo o Brasil e algumas afiliadas passavam suas respectivas programações locais na faixa das sete da noite. Ryukendo perdeu espaço nas parabólicas quando o sinal da RedeTV! cedia horário para o canal de vendas Shoptime em meados de agosto de 2009, quando acontecia a primeira reprise.
Ryukendo não foi um grande sucesso como esperado. Um balde de água fria em possíveis planos de uma expansão do filão de tokusatsu nas telinhas. Além dos problemas citados acima, a RedeTV! não popularizou a série a ponto de se tornar um carro-chefe do bloco TV Kids ou mesmo da programação como aconteceu com Jaspion e Changeman na Manchete. Tinha também uma parcela de saudosistas da saudosa emissora carioca que fazia questão de torcer o nariz para o programa nas redes sociais (como se uma produção do início do século XXI tivesse que seguir uma linha oitentista, vejam vocês).

Pra piorar, a Focus lançou Ryukendo logo depois das primeiras box de Jaspion, Changeman e Jiraiya nesse formato. A falta de timing, de planejamento de marketing e de uma avaliação de popularidade prejudicou a então nova série. Ainda mais quando os dois últimos títulos vinham com episódios ripados do Toei Channel. As vendas de Ryukendo? Pasme: apenas 10% da tiragem. Inclusive, algumas pessoas que compraram em pré-venda não receberam o produto por indisponibilidade do material e tiveram que ser ressarcidas. A Focus ainda prometeu uma segunda box em setembro de 2009, mas a distribuidora voltou atrás e o próprio gerente de marketing Afonso Fucci anunciou o cancelamento de Ryukendo na noite do dia 6 de março de 2010, ao vivo durante sua participação no extinto programa Tokusatsu Show, na web-emissora All TV.
O que parecia ser a volta definitiva do tokusatsu na TV brasileira, virou lenda urbana (pra não dizer “utopia”). Mas nem tudo está perdido. Ainda bem que existem as benditas plataformas de streaming que ainda engatinham na agregação de títulos antigos e inéditos do gênero. Bem que o herói de armadura azul poderia respirar um novo ar nessa mídia (embora a hipótese seja improvável).
Ryukendo não é a melhor série tokusatsu que já passou por aqui. Tem lá seus momentos bobos, mas é legal, simpática e dá pra se divertir tranquilamente. Bem que poderia ter um tratamento mais cuidadoso por aqui. Isso sim.
Texto publicado originalmente em 12 de abril de 2019, na Coluna do Daileon#43, via site JBox (adaptado).
Curtia demais Ryukendo.
Bons tempos….
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Lembro das chamadas de estreia em 2009, porém não consegui acompanhar a série com regularidade, devido a horário de trabalho. Ainda assim acompanhei algumas reprises, considero uma série de mediana para boa. Ótima matéria, César! Temos um review do Box de DVDs de Ryukendo em nosso canal: https://www.youtube.com/watch?v=TlEJA-BrW-E
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O Alphaville… onde eu moro.
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