Mobile Suit Gundam | 45 anos da saga espacial que superou o fracasso

O robô gigante Gundam RX-78 | Divulgação: Sunrise

Produções japonesas sobre mecha (robôs gigantes) sempre foram uma das principais referências da cultura pop japonesa. Desde a primeira série de mangá sobre o gênero, Tetsujin 28-go, do saudoso Mitsuteru Yokoyama (que mais tarde, em 1967, criou a série Robô Gigante), muitas outras séries surgiram.

Mazinger Z (1972), de Go Nagai, foi um diferencial por apresentar o primeiro robô gigante controlado por um humano em uma cabine. Uma ideia que se estendeu para outros animês e até mesmo para o tokusatsu, onde Spiderman (1978), a versão japonesa do Homem-Aranha, o apresentou como o primeiro super-herói do gênero a pilotar um robô gigante.

O ano de 1977 rendeu uma grande safra de animês mecha. Com isso, o mercado de brinquedos de super robots também cresceu, gerando a linha Chogokin no Japão e os Shogun Warriors nos EUA, que ainda são bastante populares entre crianças e colecionadores.

Foi no auge deste sucesso de vendas que o experiente diretor e roteirista Yoshiyuki Tomino – que já tinha contribuído para vários animês mecha como o clássico Astro Boy (1963) e Voltes V (1977) – resolveu inovar com a criação da série Mobile Suit Gundam (Kidou Senshi Gundam), dando início ao que foi de real robots, por apresentar mais realismo em termos de tecnologia.

Tomino não gostava das tramas com estereótipos e nem da publicidade dos super robots em que ele mesmo trabalhou. Por isso, decidiu criar Gundam como sua própria “saga espacial”, onde os robôs fossem usados ​​como ferramentas. Conhecido como “Star Wars do Japão”, Gundam teve a complexidade como um dos seus principais elementos para contar uma boa trama.

“Você conseguirá sobreviver?”

O protagonista Amuro Ray e seu inseparável Mobile Suit | Divulgação: Sunrise/Crunchyroll

Produzido pela Nippon Sunrise, Mobile Suit Gundam foi exibido originalmente entre 7 de abril de 1979 e 26 de janeiro de 1980, indo ao ar nos finais de tarde de sábado da Nagoya TV e totalizando 43 episódios.

A série se passa em algum lugar do futuro, mais precisamente no ano 0079 do Século Universal, quando o Principado de Zeon declarou independência da Federação Terrestre, iniciando uma guerra de independência chamada Guerra de Um Ano.

Após 8 meses de conflito, todos os continentes da Terra sofreram graves consequências, com a extinção de metade da humanidade e grande parte do ecossistema do nosso planeta.

Quando a White Base, o navio de guerra da Federação Terrestre, chega à base de pesquisa secreta localizada na colônia Side 7 para buscar sua mais nova arma de guerra, é atacada pelas forças de Zeon.

É neste exato momento em que Amuro Rey, um jovem civil que estava desesperado com os ataques, encontra a nova arma da Federação, o robô gigante Gundam RX-78. Ao pilotar o protótipo, Amuro consegue derrotar temporariamente as forças de Zeon, salvando a White Base e sua tripulação de refugiados, que travam uma longa jornada pela sobrevivência.

Por outro lado, Char Aznable, Tenente Comandante de Zeon (também conhecido como “Cometa Vermelho”), planeja sua vingança pessoal contra os membros da família Zabi, que ascenderam ao poder após a morte de seu pai, o fundador da República de Zeon. Além disso, ele tem uma irmã, Sayla Mass, que misteriosamente faz parte da tripulação da White Base.

Dentre várias reviravoltas, Amuro tem que lidar com a sua própria imaturidade e sua responsabilidade em enfrentar a guerra como piloto de Gundam. A reta final da série prepara uma rivalidade entre Amuro e Char, que se enfrentam tanto com seus robôs gigantes como pessoalmente, de igual para igual, num duelo de vida ou morte reservado para o marcante último episódio da série clássica.

Sucesso tardio

Gundam não se popularizou em sua primeira exibição no Japão, arriscando ser cancelado. A série estava planejada para ter 52 episódios, mas, a pedido dos patrocinadores (incluindo a fabricante de brinquedos Clover), seria reduzida para 39 episódios, chegando ao fim em dezembro de 1979. Mas a Nippon Sunrise conseguiu negociar uma prorrogação de um mês para encerrar a série, finalizando com 43 episódios.

Nota: O episódio 15 foi retirado do lançamento internacional a pedido do próprio Tomino, que considera que o episódio não estava no mesmo nível do resto do animê. Assim, Gundam é distribuído com 42 episódios.

A misteriosa Sayla Mass, uma das tripulantes da nave-mãe White Base | Divulgação/Sunrise

Por incrível que pareça, o merecido sucesso de Gundam surgiu após o fim da série, quando a Bandai adquiriu os direitos para construir modelos de plástico para o mecha principal da série de TV. Esse mercado era relativamente novo, se compararmos com a antiga linha Chogokin que Clover comercializava.

A popularidade de Gundam aumentou com as vendas dos produtos e, consequentemente, a série foi reprisada na TV japonesa.

O reconhecimento imediato encorajou a Sunrise a lançar uma trilogia de filmes, que compilaram toda a saga para os cinemas japoneses, com inserção de novas trilhas sonoras e a volta do elenco principal de dubladores (seiyu, como são chamados no Japão), incluindo Toru Furuya (a voz original de Seiya de Pégaso em Os Cavaleiros do Zodíaco) como Amuro Rey.

São estes filmes: Mobile Suit Gundam I – Edição Especial (estreou em 4 de março de 1981; compilando os primeiros 13 episódios), Mobile Suit Gundam II – Soldados da Desolação (11 de julho de 1981; dos episódios 16 ao 30) e Mobile Suit Gundam III – Confrontos no Espaço (13 de março de 1982; do episódio 31 ao final).

A criação de Tomino rendeu outras séries que faziam parte da cronologia principal, como as séries Mobile Suit Zeta Gundam (1985), Mobile Suit Gundam ZZ (1986) e o filme Mobile Suit Gundam: Char Contra-ataca! (1988).

E para expandir a mitologia, a editora japonesa Kadokawa Shoten publicou entre 25 de junho de 2001 e 25 de junho de 2011 a série de mangá Mobile Suit Gundam: The Origin, que revela o passado dos irmãos Char e Sayla antes dos eventos da série original de 1979.

Curiosamente, Gundam ainda serviu de inspiração para vários elementos do clássico Super Dimension Fortress Macross (exibido no Brasil como Guerra das Galáxias), durante seu desenvolvimento inicial.

Além disso, o diretor Guillermo del Toro citou Gundam como uma influência para a concepção do filme Círculo de Fogo (2013). E não menos importante, Gundam RX-78, o robô da série original, aparece no filme Jogador Nº 1 (dirigido por Steven Spielberg em 2018), baseado no livro homônimo de Ernest Cline.

A aparição de Gundam RX-78 no filme Jogador Nº 1 | Divulgação: Warner

Demorou para chegar ao Brasil

Fora do Japão, Gundam estreou primeiro na Itália, em fevereiro de 1980, logo após o fim da série em seu país de origem (sendo o único país a exibir o episódio 15, que foi excluído da distribuição internacional).

Em julho de 2001, a série original foi exibida nos EUA pelo bloco Toonami, que ia ao ar diariamente nos finais de tarde pelo Cartoon Network, em versão dublada em inglês.

A exibição na Terra do Tio Sam aconteceu graças ao sucesso de Gundam Wing (1995), exibido pelo canal pago no ano anterior, mas não teve o mesmo empenho, embora as avaliações fossem positivas para que a série rendesse uma enorme linha de brinquedos por lá.

Gundam também foi afetado pela repercussão dos ataques terroristas em 11 de setembro de 2001, por edição de cenas (considerando que a série tinha temática sobre guerra) e foi consequentemente cancelada. O final da série foi ao ar no Cartoon Network americano em 31 de dezembro do mesmo ano, durante uma programação especial de Ano Novo.

Rival de Amuro, o astuto Char Aznable foi personagem central no animê Gundam: The Origin –
Advent of the Red Comet
| Divulgação: Sunrise

Mais tarde, Gundam voltou a ser exibido nos EUA, a partir do primeiro episódio, em junho de 2002 no bloco noturno Adult Swim. Mas saiu do ar antes do final por baixa audiência.

Aqui no Brasil, tivemos a exibição de Gundam Wing no Cartoon Network, a partir de junho de 2002. Mas infelizmente não fez o mesmo sucesso que nos EUA, passando despercebido pelo público da época – já que nunca passou oficialmente na TV aberta.

Felizmente, com a ascensão das plataformas de streaming, hoje é possível assistir e apreciar Gundam. A série original estreou no Brasil em 25 de janeiro de 2021, com legendas em português, pela Crunchyroll. E também está disponível no Prime Video desde o dia 3 de abril de 2024, somente para assinantes do Crunchyroll Channel.

Esta e outras séries da franquia (incluindo Gundam: The Origin –
Advent of the Red Comet
, que conta a origem de Char) estão disponíveis na Crunchyroll e no Prime Video.

Imagens promocionais da trilogia de Gundam para o cinema | Divulgação: Sunrise

Já os 3 filmes compilados e também Char Contra-ataca! estão disponíveis no Brasil pela Netflix, que em breve vai lançar o filme live action exclusivo Gundam: Requiem for Vengeance, com estreia mundial prevista para o final deste ano – se conectando com a série de 1979.

Mesmo não sendo tão popular no Brasil como deveria, esta é uma boa oportunidade para assistir Gundam e entender porque este clássico é um dos mais aclamados e um dos mais importantes para quem curte animação japonesa, robôs gigantes e dramas sobre guerra.

A história provou que nunca é tarde para reconhecer a força de um Mobile Suit.


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