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Demorou cerca de dois anos, mas Shin Ultraman finalmente está no Brasil! O filme estreou originalmente nos cinemas japoneses em 13 de maio de 2022 e só chegou recentemente no Prime Video – mais precisamente em 21 de maio deste ano – para aluguel e compra. A grata surpresa é a ótima versão brasileira realizada pelo estúdio Lexx (o mesmo da série Ultraseven X).

O projeto é fruto do sucesso de Shin Godzilla (2016), que também contou com roteiro e produção de Hideaki Anno (do clássico animê Neon Genesis Evangelion) e direção de Shinji Higuchi (da recente trilogia Gamera e do live action de Attack on Titan). A dupla teve a missão de recontar a saga do maior super-herói da história do gênero tokusatsu, o Ultraman. O que aconteceria se o gigante prateado aparecesse pela primeira vez nos nossos dias?

O visual foi inspirado no conceito original de Tohl Narita, o principal designer de personagens da série original de 1966, retratado em um quadro feito por ele em 1983, intitulado como “A Encarnação da Verdade, da Justiça e da Beleza”. Esta versão mostrava o Ultraman sem o Color Timer em seu peito e foi reaproveitada por Anno e Higuchi para o filme.

Curiosamente, este não é o primeiro trabalho de Anno com Ultraman. Em 1983, quando tinha apenas 23 anos, ele interpretou um herói gigante baseado no Ultraman Jack, de O Regresso de Ultraman, em um fan film resgatado pela produtora Daicon Film que ganhou distribuição da Tsuburaya para os cinemas japoneses, em 2022 – em comemoração ao sucesso de Shin Ultraman.

A nostalgia da série clássica e também de Ultra Q (a primeira série Ultra, que precedeu Ultraman) são evocadas com um leve aspecto de retrofuturismo. Indo desde um telefone moderno com o mesmo toque do telefone da antiga Patrulha Científica, no reaproveitamento de trilhas sonoras de Ultra Q e Ultraman e até no remake da luta entre Man e o kaiju Neronga (do terceiro episódio da série clássica). E não menos importante: há também referências às séries clássicas Star Trek e Thunderbirds. Esta última influenciou Ultraseven e séries Ultra subsequentes – e acabou ganhando sua versão “Shin” no Japão.

Claro, tudo isso com efeitos especiais bem superiores. Conforme o desenrolar da trama, Shin Ultraman vai deixando a nostalgia de lado (ou melhor, a ingenuidade da série clássica) e segue por rumos diferentes e mais envolventes, ficando mais condizente com a atualidade. Isso pode ser percebido na mudança das trilhas sonoras. Se na primeira parte do filme foram utilizadas as antigas BGMs compostas por Kunio Miyauchi (in memoriam), o restante conta com a trilha sonora de Shiro Sagisu, que deu novos arranjos para algumas das trilhas sonoras de Ultraman.

A mudança de tom é dada pelo próprio protagonista, Shinji Kaminaga, um agente da SSSP (contraparte da Patrulha Científica) que se transforma num Ultraman com a capacidade de mudar de cor, de acordo com determinadas situações. O filme passa a ficar ainda mais sério com o surgimento das versões recauchutadas de antigos vilões clássicos. Por exemplo, Zarab e Mephilas são personagens essenciais para complicar a vida de Kaminaga e seus colegas, e prepará-los para uma ameaça ainda maior.

Kaminaga foi interpretado por Takumi Saitoh, que já atuou no filme live action de Patrulha Estelar (2010) e também em Shin Godzilla e em Shin Kamen Rider (2023). Outros destaques do elenco são a atriz Masami Nagasawa (como Asami), que atuou nos filmes tokusatsu Godzilla: Tokyo S.O.S. (2003), Godzilla: Batalha Final (2004) e Shin Kamen Rider (2023); além do cinquentão Hidetoshi Nishijima (como o chefe Kimio Tamura), astro do premiado filme Drive My Car (2021) e da série reboot Kamen Rider Black Sun (2022).

Anno e Higuchi conseguiram equilibrar as visões do passado e do presente em Shin Ultraman, tornando o filme tokusatsu um dos mais aclamados da dupla. O que começou como uma criação de Anno há quatro décadas acabou se tornando realidade e foi referenciado neste filme.

Shin Ultraman é, de longe, um dos melhores filmes da franquia até agora, mostrando uma nova versão do herói que se compromete a renovar os “fortes laços com os humanos”. Mudar o estilo da narrativa sem abandonar o legado foi um grande acerto do filme.