
Após 20 anos do final da série de TV, Kamen Rider 555 (Faiz) ganhou um merecido filme no formato V-Cinema, Kamen Rider 555 20th: Paradise Regained, lançado nos cinemas japoneses em 2 de fevereiro deste ano. Sem dúvida, esta é uma das séries Kamen Rider da era Heisei mais queridas e aclamadas pelos fãs de tokusatsu, que contou com o ótimo roteiro de Toshiki Inoue, que costuma explorar os personagens de seus trabalhos. Não poderia ser diferente, pois o filme mostra como alguns elementos e pessoas mudaram ao longo de duas décadas.
Obviamente, Paradise Regained possui efeitos visuais e filmagens superiores aos da série de 2003, ainda que os efeitos especiais da Toei não sejam perfeitos. Kamen Rider 555 (que atualmente está disponível no Brasil via Prime Video, com todos seus 50 episódios remasterizados em HD) era uma série filmada em vídeo, não tinha imagem em alta definição e daí seus efeitos especiais meio forçados. Até isso tinha um certo charme, algo bem comum em algumas séries tokusatsu do início do século.

O novo filme foi produzido para o público da época. Portanto, se você não assistiu à série, pode se perder em várias referências. As mesmas trilhas sonoras (BGMs) de Kamen Rider 555 estão presentes, mas, como agora estamos em 2024, houve algumas atualizações, como a empresa Smart Brain atuando com inteligência artificial, os celulares de transformação agora são smartphones e agora temos uma nova vilã, Rena Kurumi/Kamen Rider Muez (curiosamente, a atriz Rumika Fukuda admitiu que sua pose de transformação foi inspirada em Kamen Rider Jeanne, da série Kamen Rider Revice).
Além disso, o código de transformação de Muez (pronunciado “Míuz”) é 666, uma referência ao número da besta, que é também um retorno ao título do filme. Rena, que é tímida, lidera os capangas da Smart Brain, que agora caça os Orphnochs e incentiva a população a denunciar qualquer aparição destas criaturas. Parece que o jogo virou, não é mesmo?
Por outro lado, Keitaro não aparece no filme (na boa, ele não faz falta, por ser um personagem chorão) e sua lavanderia está sob administração de Mari Sonoda. O anti-herói Masato Kusaka/Kamen Rider Kaixa aparece vivo, como se ele não tivesse morrido na reta final da série de TV — mas isso tem uma explicação no final do filme.
No entanto, o foco principal é o protagonista Takumi Inui/Kamen Rider Faiz, que não aparece nos primeiros 20 minutos de Paradise Regained (a não ser em um flashback), já que ele havia desaparecido misteriosamente, abandonando Mari e os demais companheiros. É a partir do momento de seu retorno que os rumos do filme mudam completamente, gerando reviravoltas e surpresas para o espectador.

Tudo acaba girando ao redor de Inui, que agora virou um personagem bem mais complexo do que antes. Ou melhor, mais cansado e agora, por algum motivo, está desacreditado na possibilidade de coexistência entre humanos e Orphnochs. A relação de amizade entre Inui e Mari evolui de maneira um tanto estranha, dependendo do ponto de vista do espectador.
Como mencionei anteriormente, Inoue gosta de explorar profundamente seus personagens, e fez um bom trabalho ao dar uma nova oportunidade para ambos, nas devidas proporções. Mas o roteirista falhou ao não explorar, como deveria, a origem do novo presidente da Smart Brain, dando-lhe uma situação mais fácil. Talvez isso seja pela duração do filme (apenas 65 minutos).
Mesmo assim, Kamen Rider 555 20th: Paradise Regained é um ótimo filme e vale por seu apelo nostálgico. Embora o passado seja reverenciado, o enredo carrega uma mensagem sobre viver o presente. Fazer o agora para se tornar o futuro.

E com este filme, já podemos dizer que Kusaka é uma figura onipresente na mitologia de Kamen Rider 555, não importa o que aconteça. O personagem já está mais do que associado à imagem do ator Kohei Murakami, que já brincou em uma entrevista dizendo que quer protagonizar um filme chamado “Kamen Rider 555: Kaixa Contra-Ataca”.
Quem sabe isso seja possível, já que há um gancho para isso. Se rolar mesmo, que não demore mais 20 anos.