E se ‘Jaspion’ fosse adaptado para ‘VR Troopers’?

É nessas horas que a gente tem que agradecer ao Haim Saban por escolher outro Metal Hero no lugar | Divulgação: Toei

Aproveitando o ensejo do post anterior, sobre os direitos de Shaider no Ocidente, me lembrei de um assunto que às vezes me ocorre quando revejo Jaspion. Vocês já pensaram como seria se o herói japonês mais famoso e querido do Brasil simplesmente servisse como adaptação para VR Troopers? Sim, é verdade que a série original de 1985 é bastante estimada por nós, fãs brasileiros, que temos a felicidade de ver e rever este material de forma oficial ainda hoje. Mas essa realidade poderia ser bem diferente se Haim Saban, por acaso, escolhesse justamente este clássico para compor a trupe da realidade virtual.

A princípio, em 1993, Metalder (1987) foi escolhido para ser uma adaptação de Cybertron, que não passou de um piloto produzido pela antiga Saban Entertainment, com o saudoso Jason David Frank (o Tommy de Power Rangers) interpretando Adam Steele, o alter-ego que vestiria a armadura do Homem-Máquina, mas com o homônimo do planeta natal dos Transformers.

Para não ter problemas com a Hasbro (que anos mais tarde seria também a dona de Power Rangers), o projeto teve que mudar de nome, David Frank voltou para Power Rangers e Spielvan (1986) foi incluído no mesmo projeto. Assim nasceu a série VR Troopers.

A escolha de Spielvan foi um “chute na trave”? Talvez. Acredito que foi mais pela proximidade com Metalder. Para a segunda temporada de VR Troopers, Shaider (1984) foi escolhido para suprir a escassez das cenas de ação de Metalder, a série Metal Hero mais curta de toda a franquia.

“Somos realidade virtual!” | Divulgação: Hasbro

E por que Shaider foi escolhido ao invés de Gavan, Sharivan ou mesmo Jaspion? Não sabemos qual critério o Sr. Saban utilizou no momento do acordo com a Toei, mas talvez seja por Shaider ser uma série que ainda tinha elementos bem mais próximos de Spielvan, considerando que o Guerreiro Dimensional foi uma releitura da trilogia dos Policiais do Espaço. E Shaider era a produção mais “recente” da trilogia.

Outro “chute na trave”? Quem sabe, né? Ainda bem que foram estes os escolhidos para VR Troopers. Mas uma mera escolha de Saban poderia mudar todo o rumo. E se Jaspion fosse a “pobre vítima” da famigerada sabanização? Como diria Patropi (personagem do saudoso humorista Orival Pessini): o mundo jamais seria o mesmo, pelo menos para os fãs de tokusatsu. Mas vale o exercício para imaginar as consequências.

Obviamente, as cenas de ação seriam adaptadas para o enredo americano, o nome do herói mudaria (seria Ryan Steele, J.B. Reese ou algum novo personagem?), o tom da série ficaria mais agitado, ouviríamos diálogos toscos durante as batalhas e teríamos uma versão americana — e bizarra — da Metaltech Suit do Jaspion. Se esse possível cenário seria difícil para qualquer fã brasileiro de tokusatsu, imagine como seriam as questões legais.

Como o próprio licenciador Toshihiko Egashira, dono das extintas Everest Video e Tikara Filmes, já mencionou em entrevistas, a Saban pediu os direitos de Spielvan e Metalder, que estavam com ele aqui no Brasil. Ou seja, se Jaspion fosse mesmo escolhido no lugar de Shaider — ou, na pior das hipóteses, escolhido para uma terceira temporada de VR Troopers, que (felizmente) nunca aconteceu — Toshi teria que abrir mão do seu primeiro grande sucesso como licenciador e não teríamos as reprises na TV.

Ryan Steele e a trapalhada versão americana de Shaider em VR Troopers | Divulgação: Hasbro

Quem poderia ajudar Jaspion a se livrar da “maldição” da Saban? Talvez a Focus Filmes num lançamento em DVD. Talvez a Sato Company para lançamento em plataformas de streaming. Isso, sim, seria possível e poderia acabar com a antiga narrativa de que a Saban, Disney e Hasbro “proibiram” de passar tokusatsu no Brasil. E seria bom mesmo se isso acontecesse.

Mas, assim como acontece com Shaider e com outras séries da Toei que atualmente estão nas mãos da Hasbro, Jaspion seria um material bem mais caro. Em outras palavras, o clássico de 1985 seria a “galinha dos ovos de ouro” na frente de Jiraiya e Jiban, por exemplo. A volta do nosso Tarzan Gallático seria incerta ou, economicamente falando, uma possibilidade praticamente remota. E dificilmente teríamos mangá nacional, guia visual definitivo e um prometido filme brasileiro.

Goste ou não de Power Rangers, a franquia foi — e ainda é — historicamente importante para a difusão do tokusatsu fora do Japão. Mas a possibilidade de Jaspion se tornar parte de VR Troopers lá nos anos 90 seria um pesadelo infernal para os fãs mais hardcore. É nessas horas que a gente tem que agradecer ao Haim Saban por escolher o “Jaspion 2” e o “Jaspion azul”.

Particularmente, não nego que eu gosto de VR Troopers, analisar as cenas japonesas e rir mesmo dos erros que surgiam na versão americana. Mas tenho que admitir: ainda bem que a terceira temporada jamais aconteceu. Foi por pouco, pois, caso contrário, a comoção entre os fãs de Jaspion seria bem maior — e desta vez com toda razão.


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