‘Ultraman Tiga’ estreou no Brasil há 25 anos como tentativa de renovar o tokusatsu na TV

Ultraman Tiga em ação | Divulgação: Tsuburaya

Na segunda-feira, 28 de fevereiro de 2000, a Record lançou uma então nova série tokusatsu. Ultraman Tiga (1996) era exibido de segunda a sexta, por volta das 10h30, no (não tão saudoso) programa infantil Eliana & Alegria. Era uma nova esperança para os fãs do gênero, que já estavam órfãos da Rede Manchete, extinta no ano anterior, mas que infelizmente não foi devidamente valorizada como Pokémon, o carro-chefe da programação infantil da época.

Com o fim da Manchete em 10 de maio de 1999 – coincidentemente, a mesma data da estreia de Pokémon na Record -, Jiraiya (1988) e Maskman (1987) ainda eram as únicas séries exibidas de tokusatsu durante a fase experimental da RedeTV!. Ambos os clássicos saíram do ar em 31 de outubro de 1999, em uma manhã de domingo, junto com os animês Shurato (1989) e Yu Yu Hakusho (1992).

Havia outras exibições de tokusatsu na Record do Rio de Janeiro, com a dobradinha formada por Sharivan (1983) e Machineman (1984) no início de tarde. Segundo registros de programação, Machineman se despediu da programação local em 7 de maio de 1999 e Sharivan em 10 de maio do mesmo ano (coincidência?), saindo do ar definitivamente na TV brasileira.

Isso sem contar que, naquele ano, a Globo não havia lançado uma temporada inédita de Power Rangers. A primeira temporada era reprisada nas madrugadas, ao lado do famigerado VR Troopers (1994). Power Rangers no Espaço (1998) já sucesso no extinto canal pago Fox Kids e só estreou na emissora carioca em 3 de janeiro de 2000, nas manhãs do programa infantil Angel Mix.

Pokémon era o grande sucesso da Record na virada do século | Divulgação: 4Kids

Parecia o fim do gênero tokusatsu no Brasil, mas, por outro lado, havia planos para a então nova geração que acompanhava as aventuras de Ash, Pikachu e cia. A distribuidora Mundial Filmes havia adquirido a série Ultraman Tiga, que celebrou os 30 anos da estreia da série original e quebrou um jejum de 15 anos sem uma produção da franquia para a TV japonesa.

Marcelo Del Greco, que trabalha atualmente como gerente de conteúdo da Editora JBC, esteve envolvido nos bastidores do licenciamento de Tiga e tinha planos para trazer Ultraman Dyna (1997), Ultraman Gaia (1998), além de um pacote com a volta dos clássicos Ultraseven (1967), O Regresso de Ultraman (1971) e o inédito Ultraman Ace (1972).

Sem dúvida alguma, Ultraman Tiga foi uma das melhores séries tokusatsu que passaram no Brasil, rendendo uma média de 8 pontos para a emissora do bispo, ultrapassando a audiência da segunda temporada de Pokémon, lançada em 21 de fevereiro de 2000 – uma semana antes da estreia da série tokusatsu.

Mesmo com a boa audiência, devido à sua carga dramática, era estranho ver Tiga como atração do programa da Eliana, que tinha uma pegada bem mais infantil e inocente para o horário. As piadas do Chiquinho, o então assistente de palco atrapalhado da loira, não combinavam nada com o ritmo da serie que passava na sequência. A Record anunciava a série para as 10h30 da manhã, mas geralmente começava com alguns minutos de atraso, chegando a começar antes do previsto em algumas ocasiões.

Ultraman Tiga saiu da programação da Record antes da exibição do encontro do herói com o primeiro Ultraman | Divulgação: Tsuburaya

Quem aguardou o dia 4 de maio de 2000 para assistir ao episódio 49 de Tiga levou um banho de água fria com a repentina saída da série da programação. Aquela quinta-feira poderia ser marcada com a aparição do primeiro Ultraman numa homenagem feita para o saudoso Eiji Tsuburaya, criador da série original. Dentro do programa da Eliana, já rolavam os anúncios da reestreia da série animada Donkey Kong para a semana seguinte, a partir de 8 de maio de 2000. Uma tremenda bola fora da Record.

Em entrevista para o canal TokuDoc, lançada em 21 de maio de 2019, Del Greco explicou que a culpa não era de Eliana, como se pensava, e sim de um desacordo entre a distribuidora Mundial Filmes e a Record (assista aqui). Numa outra entrevista, realizada em 2009 para o site JBox, ele também explicou sobre o seu planejamento para trazer Ultraman Dyna:

Marcelo Del Greco esteve envolvido no projeto de lançamento das séries Ultra | Divulgação: Editora JBC

“Sim, com a audiência que o Tiga estava tendo, havia o plano de lançar o longa nos cinemas em julho daquele ano (2000). Ao mesmo tempo, a Record encomendou o Dyna que, aí sim, eu já teria direitos de TV, vídeo e de licenciamento em parceria com a Mundial. Não chegamos a fazer testes de dublagem – na verdade, eu já havia decidido quais seriam as vozes para cada personagem. Conversei com alguns dubladores do Rio que eu conhecia para saber se eles topariam o trabalho, mas o lançamento acabou não ocorrendo. (…)

Em relação à série do Dyna, ela também seria dublada na Audio News mas, coincidentemente, as masters dela chegaram do Japão no dia que o Tiga saiu do ar. Uma pena, porque o projeto original era trazer todas as séries Ultra, novas e antigas. Minha ideia era fazer uma sessão dupla: um episódio de uma série clássica e outro de uma nova (tinha até o Gaia na época) ou intercalar as séries com direito a reprise na madrugada. Eu queria trabalhar a licença do Universo Ultra e não apenas de uma Ultrasérie. O projeto teria sido perfeito, ainda mais depois que Ultraman Mebius foi lançado e amarrou o universo. Mas fazer o quê?! Não era pra ser… =(.”

Uma pena, pois Ultraman Tiga poderia ter um horário alternativo nas tardes da Record, considerando que havia também exibição de Pokémon na faixa, junto com outros desenhos. A série teve duas reprises nesse horário em meados de 2001 e final de 2002 para o início de 2003 – ambas sem os episódios finais e apresentadas meramente como tapa-buraco. Só quem morava em cidades com o sinal da Rede 21, entre 9 de maio e 7 de julho de 2005, podia conferir a exibição de Tiga no início do horário nobre, de segunda a sábado.

Ao menos os últimos quatro episódios foram exibidos, mas não houve reprise. No lugar, veio mais uma infindável reprise do animê Tenchi Muyo!. A sobrevida de Tiga foi o lançamento dos filmes A Odisseia Final (2000) pela Impact Records e Superior Ultraman 8 Brothers (2008) pela Focus Filmes, no mercado home-video e com a volta do elenco original de dublagem.

O sucesso de Tiga, ainda no ano 2000, era quase imediato e sua popularidade poderia vingar. Faltava mais um pouco pra isso acontecer. Nem tudo é como a gente quer, não é mesmo?

Tiga ao lado se seu sucessor, Ultraman Dyna | Divulgação: Tsuburaya

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