O histórico das séries japonesas na extinta Manchete

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Jaspion, um fenômeno que marcou época na saudosa emissora

Se ainda estivesse no ar, a Rede Manchete estaria completando 35 anos de existência nesta terça (5). Ao lado da também extinta Tupi, foi uma das emissoras que marcaram história no Brasil e que mais deixaram saudades nos espectadores. Com o primeiro sinal no ar às 15h27 do dia 13 de maio de 1983 (sexta), a Manchete era oficialmente inaugurada às 19h02 do dia 5 de junho daquele mesmo ano (domingo) com as boas vindas do então dono da emissora, o saudoso Adolpho Bloch, a exibição do especial O Mundo Mágico e do filme Contatos Imediatos do Terceiro Grau (de 1977) — inédito na TV brasileira até então. A emissora surgiu a partir da divisão da concessão da Tupi. Adolpho Bloch assumiu a antiga Rede A (Rio, Recife, Fortaleza, Belo Horizonte) e Silvio Santos a antiga Rede B (São Paulo, Belém, Porto Alegre) — formando então a TVS/SBT.

Com grandes novelas, jornalismo de qualidade e histórico de coberturas de carnaval, a Manchete também é lembrada pelo boom de séries japonesas como jamais havia e haverá igual por aqui. Relembre (ou conheça) a trajetória ano a ano das produções de animê e tokusatsu na saudosa emissora carioca:

1983

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O Pirata do Espaço foi o primeiro animê exibido na Manchete

No primeiro ano, a Manchete lançou cinco séries de animê em apenas um mês de transmissão. O primeiro foi O Pirata do Espaço no dia 19 de junho (domingo). No dia 21 do mesmo mês (terça), estrearam D’artagnan e os Três Mosqueteiros e Super Aventuras. Uma semana depois foi a vez do renomado Patrulha Estrelar, de Leiji Matsumoto, em 28 de junho (terça). E o engraçadíssimo Don Drácula, de Osamu Tezuka, deu o ar de sua graça pela primeira vez em 7 de julho (quinta). As atrações foram exibidas no Clube da Criança, apresentado na época por Xuxa Meneghel, antes de ser consagrada como a “rainha dos baixinhos”.

1988

Na semana seguinte ao carnaval daquele ano, Jaspion e Changeman estrearam no Clube da Criança no dia 22 de fevereiro, agora com apresentação de Angélica. Licenciadas pelo sr. Toshihiko Egashira (ou Toshi), dono da extinta Everest Vídeo, as duas séries, respectivamente das franquias Metal Hero e Super Sentai, foram um fenômeno e até hoje são lembradas como cult da história do tokusatsu na TV brasileira. O sucesso abriu portas para o lançamento de outras séries dentro e fora da Manchete nos anos seguintes, além de um Circo Show.

1989

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Flashman foi um dos grandes sucessos no entre o final dos anos 80 e início dos 90

No dia 6 de março estreava Flashman, também pela distribuidora Everest Vídeo. A Top Tape entrou no embalo e foi através dela que a Manchete lançava Jiraiya e Lion Man no dia 2 de outubro de 1989, dentro do programa Cometa Alegria. Flashman foi a segunda série Super Sentai no Brasil e é uma das mais queridas pela geração que acompanhou na época. Foi exibida depois nas emissoras Record e CNT/Gazeta nos anos 90.

Jiraiya foi um fenômeno e isso levou ao astro principal Takumi Tsutsui a vir para o Brasil várias vezes ao Brasil. Já Lion Man, possui duas séries clássicas produzidas pela extinta P-Productions, sendo a primeira Kaiketsu Lion Maru (branco; de 1972) e Fuun Lion Maru (laranja; de 1973). A Manchete exibiu primeiro esta última, já que teve apenas 25 episódios. A série original de Lion Man teve 54 episódios e foram exibidos cerca de dez episódios aleatórios.

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Jiban, o policial de aço

1990

Faltando apenas seis dias para a exibição do episódio final no Japão, Jiban estreou na emissora em 22 de janeiro, com distribuição da Top Tape. Com bons episódios e outros com situações um tanto bizarras, marcou época com um arco onde o herói foi morto brutalmente e ressurgia impetuosamente em seguida com novo arsenal. Infelizmente os dois últimos episódios jamais foram exibidos na TV (de forma oficial) e só foram lançados em 2011 na segunda e última box da série, via Focus Filmes. Os mesmos receberam nova dublagem pela Dubrasil e com a maioria do elenco original. Carlos Laranjeira, a voz de Naoto Tamura/Jiban, morreu em 15 de maio de 1993 e foi substituído por Figueira Jr, o Androide 17 do animê Dragon Ball Z.

Em 12 de outubro (sexta) foi exibido o primeiro episódio de Cybercop. Outro grande sucesso da casa, produzido pela Toho (a mesma de Godzilla) e trazida por aqui via N Sato – Brazil Home Video (atual Sato Company). Outra série tokusatsu que ficou sem final. Em 2000, Cybercop passou na CNT/Gazeta e em 2001 pela Cinehouse. Assim como Jaspion e Changeman, os Policiais do Futuro ganharam um Circo Show. Cybercop foi exibido até março de 1995 e chegou a ser exibido às tardes junto com Patrine e Winspector.

1991

spielvan
Spielvan, a tentativa de ser um “novo Jaspion”

A Sessão Super-Heróis, que já apresentava as séries tokusatsu nos fins de tarde da Manchete, inaugurava uma “nova temporada” em 22 de abril com as estreias de Spielvan, Maskman e Kamen Rider Black. Todas pela Everest Vídeo. Na tentativa de emplacar um novo sucesso, a Everest chamou Spielvan de “Jaspion 2” e infelizmente não caiu na popularidade. Em 1996, Spielvan e sua parceira Lady Diana reapareceram na TV como J.B. Reese e Kaitlin Star, dois dos três heróis da série nipo-americana VR Troopers, que adaptava também as séries Metalder e Shaider, exibidos também no Brasil pela primeira vez via Bandeirantes e Gazeta, respectivamente. Troopers foi exibido no programa TV Colosso, da Rede Globo. Maskman ganhou horário próprio ao meio-dia no ano seguinte e depois saiu do ar, retornando mais tarde na fase final da Manchete (ver 1999). O maior sucesso deste pacote certamente é Kamen Rider Black. Criada por Shotaro Ishinomori nas páginas da Shonen Jump. Era apresentado comercialmente como “Black Man” e rendeu uma última reprise entre 27 de dezembro de 1993 e 15 de julho de 1994. Infelizmente o último episódio jamais foi exibido no Brasil e sequer ganhou um lançamento em DVD por aqui, como estava prometido pela Focus Filmes.

1992

Com distribuição da WTC Comunicações, o Clube da Criança exibe a série Doraemon, da versão exibida originalmente entre 1979 e 2005. A canção “Super Cat”, do primeiro álbum de Angélica (1988), serviu como tema do personagem. Infelizmente o animê não vingou como no Japão. Alguns episódios da atual versão produzida desde 2005 foram distribuídos no Brasil via Sato Company e exibidos nos canais de streaming Netflix e o extinto Wow! Play. Atualmente os mesmos podem ser vistos em seu canal oficial no YouTube.

1994

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Winspector iniciava uma “nova era” do tokusatsu na Manchete

A Everest Vídeo muda de nome para Tikara Filmes e trouxe para o Brasil as séries tokusatsu Patrine e Winspector. As estreias na Manchete foram respectivamente em 4 e 18 de julho. Patrine e Winspector formaram um trio com Cybercop na programação vespertina. O dia 1 de setembro (quinta) do mesmo ano foi um marco para os animês no Brasil. Estreava Os Cavaleiros do Zodíaco às 18h30, no Clube da Criança, apresentado por Paty Beijo. Inicialmente foram exibidos os primeiros 52 episódios de um total de 114, através de uma permuta entre a Manchete e a distribuidora Samtoy. A febre rendeu uma grande procura por miniaturas dos personagens nas vésperas do Natal.

1995

Após duas reprises, os novos episódios de Cavaleiros do Zodíaco começaram em 1 de maio. A chamada “segunda fase” era situada entre os episódios 53 e 84. Os mesmos foram reprisados mais uma vez e a “terceira fase” começava em meados de agosto, entre do episódio 85 até o final da série clássica.

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Black RX foi exibido por aqui ao mesmo tempo que sua contraparte, o Masked Rider

No mesmo ano estrearam as séries tokusatsu Solbrain, em 12 de junho e Kamen Rider Black RX, em 24 de julho. Ambas foram trazidas pela Tikara e são respectivamente continuações diretas de Winspector e Kamen Rider Black e passavam na Sessão Super-Heróis. Devido a um acordo entre a Tikara e a Saban, pudemos assistir a versão original de Black RX na TV aberta enquanto Masked Rider, sua adaptação americana passava somente na TV paga pela também extinta Fox Kids.

Em 12 de outubro, dia das crianças, a Manchete exibia dois episódios de Tama e Seus Amigos. Um às 9h30 e outro às 17h30. A exibição serviu como divulgação da série em VHS pela Sato Company.

1996

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Somente doze episódios de Ultraman foram reprisados no bloco JapAction

As novidades do ano começaram oficialmente com a estreia do bloco JapAction, exibido na faixa das 19h às 20h. A inauguração foi por conta de duas séries tokusatsu no dia 25 de março. O nipo-americano Super-Human Samurai (adaptação de Gridman) e a volta do clássico Ultraman, que era apresentado pela primeira vez na telinha com a redublagem da BKS. A dobradinha ia ao ar de segunda à quinta, pois às sextas ia ao ar National Kid e as reprises de Solbrain. Estrelada por Matthew Lawrence (do filme Uma Babá Quase Perfeita), Super-Human Samurai foi exibida na íntegra. Enquanto foram ao ar os primeiros 12 episódios de Ultraman, ainda na fase com a máscara derretida do herói (Type A) e uma parte inicial da saga dos Incas Venuzianos de National Kid (formato adaptado para a TV brasileira em três episódios e sem continuação). As três primeiras atrações foram distribuídas pela Sato Company.

No mesmo ano, a Manchete lançava mais três animês na programação. Sailor Moon (pela Samtoy) em 29 de abril, Shurato em 13 de maio (pela Tikara; ainda dentro do bloco JapAction, que ficou no ar por mais três semanas) e Samurai Warriors (pela Samtoy) em 3 de junho.

Em 8 de novembro, era exibido às sextas-feiras o bloco US Mangá. Lá foram apresentados OVAs como Detonator Orgun, Zeoraymer, Genocyber, Fatal Fury, entre outros. Relembre esses e outros títulos do bloco neste vídeo especial do canal Jbox.

1997

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Yu Yu Hakusho figurava a programação nos últimos dois anos da Manchete

Seguindo o sucesso de Cavaleiros, a Tikara apostou em Yu Yu Hakusho que estreava no dia 24 de março. Não teve o mesmo boom, mas bastante popular e considerado pelos fãs como o animê com a melhor dublagem. Esta por sua vez era feita no estúdio carioca Áudio News. Yu Yu também chamou atenção por sua marcante trilha sonora em português.

Substituindo Cavaleiros da programação infanto-juvenil, a Samtoy trouxe o animê Super Campeões. Foi ao ar pela primeira vez em 15 de setembro, aquecendo o público para a Copa do Mundo no ano seguinte, na França, já que a temática é sobre futebol. O sucesso, porém, foi mediano.

O ano terminou sem séries tokusatsu, após Winspector, Solbrain e Black RX saírem do ar. Houve a exibição de Os Cavaleiros do Zodíaco – O Filme (ou A Lenda dos Defensores de Atena) às 15h45 do dia 31 de dezembro. Foi a última passagem de Seiya e cia na emissora.

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A Lenda dos Defensores de Atena encerrava a história d’Os Cavaleiros do Zodíaco na emissora carioca

1998

Samurai Warriors foi reprisado entre 5 de janeiro e 20 de março, indo ao ar de segunda à sexta às 19h30. O horário logo foi ocupado pelo polêmico programa da jornalista Magdalena Bonfiglioli, que tinha trocado o SBT pela Manchete. O resto do primeiro semestre foi praticamente de exibições de Yu Yu hakusho e Super Campões (veja uma amostra aqui). Havia previsão de lançamento do animê Ranma ½ para o mesmo ano, mas infelizmente isso nunca aconteceu.

Em outubro, a Manchete enfrentava sua pior crise e preparava um pacote de reprises de enlatados. Super Campeões já estava fora do ar. Para reforçar a programação, Shurato era reprisado mais uma vez a partir de 26 de outubro, em dobadinha com Yu Yu Hakusho. Pegando todos de surpresa, a Manchete voltaria a exibir tokusatsu novamente após quase um ano ao reprisar Jiraiya em horário nobre, a partir de 7 de dezembro. O clássico teve os direitos renovados no Brasil e desta vez pela Tikara Filmes, devido ao seu grande sucesso no começo daquela década.

1999

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Jiraiya era uma das reprises que passaram da crise da Manchete à transição para a Rede TV!

Afim de reparar as dívidas e tentar se reerguer financeiramente, a Manchete entra em parceria com a Igreja Renascer e lança uma nova programação em 18 de janeiro. Com o slogan “tudo novo no verão 99”, a programação de enlatados japoneses ainda era velha e tive apenas 45 minutos antecipados. Porém, uma novidade: a reestreia de Maskman em 23 de janeiro e inicialmente em exibição nos finais de semana. Posteriormente a série ganhou exibição vespertina de segunda à sexta, sempre com dois episódios e separados das reprises de Jiraiya, Shurato e Yu Yu hakusho. Por contrato, a parceria com a Igreja Renascer duraria até 2014, mas não deu certo. Os problemas se agravaram na emissora.

A Manchete foi extinta no dia 10 de maio com a venda da emissora para o grupo TeleTV. Assim iniciava a fase de transição para uma nova emissora. A data foi a mesma da estreia de Pokémon na Record. Uma simbólica passagem de tocha de uma geração para outra. No final do mesmo mês, a antiga Manchete, que estava sem nome, passou a ser chamada de Rede TV!. Na mesma emissora, Jiraiya, Shurato, Maskman e Yu Yu Hakusho ainda eram reprisados. Mas como meros tapa-buracos, intercalados com uma programação loteada por infomerciais e uma inconstância cabulosa de horários. Os animês chegavam ao fim e voltavam ao início. Mas, no geral, Jiraiya passou até o episódio 38, com exceção dos episódios 15 e 16. Já Maskman foi até o episódio 36.

Estimasse que o último suspiro destas mesmas séries japonesas que passaram pela venda/extinção/transição se deu na manhã do dia 31 de outubro. Assim, por ironia do destino, a televisão do ano 2000 não chegou até lá. Porém seu legado continua vivo na memória e no coração de seus espectadores.

Créditos: Matheus Mossmann

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O M da Manchete no topo do edifício que leva o nome da extinta emissora, na Rua do Russel, Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)

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