
São Paulo é de longe a capital brasileira de maior referência em matéria de eventos de cultura pop japonesa. É lá onde acontecem grandes eventos como Anime Friends e Comic Con Experience. A cidade possui a maior colônia japonesa do Brasil e, consequentemente, possui uma grande concentração de fãs de animes, mangás e até de tokusatsu.
Eventos do tipo não ficam restritos apenas a SP e outras capitais também possuem seus próprios eventos. Depois do AF e da CCXP, o terceiro maior evento do Brasil acontece duas vezes por ano em Fortaleza (de onde escrevo). O Sana existe desde 2001 (dois anos antes da inauguração do AF) e surgiu com o propósito de difundir a cultura pop japonesa aqui na capital alencarina. O evento foi evoluindo com o passar dos primeiros anos e em 2007 apostou finalmente em atrações internacionais. O primeiros nomes foram os cantores Akira Kushida e Takayuki Miyauchi, conhecidos por interpretarem canções de séries tokusatsu como Jaspion, Jiraiya, Jiban, Kamen Rider Black RX, Winspector, Solbrain, etc.
O ano foi especial para o público cearense, que foi agraciado nos anos seguintes com a presença de mais cantores de tokusatsu como Nobuo Yamada, Hironobu Kageyama, Masaki Endo, Hiroshi Kitadani, Ricardo Cruz e Eizo Sakamoto. Para os fãs locais de tokusatsu, essa fase, que durou até 2012, foi a mais promissora. O evento mudou no ano seguinte para o Centro de Eventos do Ceará. O espaço é bem maior que o extinto Centro de Convenções, que estava intransitável na última edição ali realizada.
Mas as fases seguintes do Sana foram de esfriamento para os fãs de tokusatsu, que culminou na retração desse público. Um caminho totalmente inverso dos demais eventos de sucesso no Brasil. Apesar do espaço dedicado ao gênero ainda funcionar, pouco foi investido em atrações para os fãs dos heróis faiscantes. É que ao longo dos últimos seis anos o evento passou a tornar atrações voltadas para a geração millennial como carro-chefe das edições. Entenda: nada contra youtubers, K-pop e coisas do tipo. Acontece que o Sana foi deixando gradativamente de lado elementos da cultura pop japonesa. Elementos esses que deram origem ao maior evento de cultura pop do Norte-Nordeste. Por um lado, uma nova geração de pagantes foi formada. Nenhum problema até aí. Por outro lado, parte do antigo público ficou órfão e não foi devidamente renovado. Apesar desse descaso, ainda existe um público de tokusatsu que ainda resiste. Porém, não mais com a mesma força dos tempos áureos do antigo Centro de Convenções.

Pra não dizer que a escassez de tokusatsu foi contínua, houve duas retomadas. Entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017 tivemos as participações de três atores de Power Rangers: Walter Jones (Zack em Mighty Morphin), Jason Faunt (Wes em Força do Tempo) e Steve Cardenas (Rocky em Mighty Morphin e Zeo). O primeiro Sana Fest realizado em dezembro aconteceu em 2017 e contou com a presença do ator Takumi Tsutsui (Jiraiya) e em 2018, na tradicional edição de julho, tivemos a volta do cantor Akira Kushida.
Só que o Sana continuava, ou melhor, continua com a cara de outro evento e ainda carrega o nome que um dia formou a sigla “Super Amostra Nacional de Animes”. Hoje em dia está muito distante de um genuíno berço da cultura pop japonesa no Ceará. Tudo mudou drasticamente. O cenário ainda poderia contar com animes, mangás e tokusatsu como carro-chefe de programação. Não com os mesmos recursos de 10 anos atrás, mas poderia seguir os passos de atualização e evolução do mercado. É possível sim agregar a multi-temática sem abandonar as raízes.
Recentemente visitei o evento Anime Friends, em São Paulo, e percebi que a temática japonesa continua fortalecida e está bem longe de acabar. Sim, é verdade que atualmente há youtubers, k-popers e coisas do tipo. Mas a cultura pop japonesa ainda é a grande referência. Atrações japonesas ainda são realidade “na terra da garoa”. Hoje o AF está sob nova administração, pela Maru Division. Além da forte agregação de cosplays, música japonesa e stands das editoras de mangás, o tokusatsu ainda é presente, convidativo e não calhou como um espaço meramente decorativo.
De 2018 pra cá os paulistas tiveram presenças dos atores Takumi Tsutsui (Jiraiya), Takumi Hashimoto (Manabu), do apresentador Yuki Takasaka (Ito, mahoroba) e do meu amigo Danilo Modolo (do canal TokuDoc). Um dos atrativos é a participação de atores de produções inéditas no Brasil. Por lá estiveram Ayame Misaki (Escape em Go-Busters) no AF 2018, Yuma Ishigaki (Geki Jumonji em Gavan: The Movie e Space Squad) no Ressaca Friends 2018 e Ayaka Komatsu (Sailor Venus no live action de Sailor Moon) no AF 2019.

Agora, o grande trunfo da Maru é sem dúvida o espetáculo Ultraman Heroes. Os heróis da Tsuburaya vieram para firmar a consolidação da franquia no Brasil. O público presente era formado por fãs novos e das antigas e até crianças que se emocionaram. O sucesso foi grande.
É fácil dizer que o motivo principal desse sucesso todo é devido à forte atuação da colonia japonesa em São Paulo. O que não deixa de ser verdade. E é por isso que esse formato não pode ser atuado em Fortaleza, que ainda está entre as principais capitais dos eventos de cultura pop? Que me perdoem os conformistas de plantão, mas é ingenuidade se deixar levar por um achismo de que “isso nunca vai dar certo como antigamente” e se contentar com formatos arcaicos e desinteressantes. Veja: por aqui deu certo num passado não muito distante, mas o investimento em atrações de tokusatsu foram descontinuadas, sofreram hiatos e tais lacunas foram prejudiciais para o próprio evento e para boa parte do público que era atuante. A falta de atrativos e de um marketing agressivo também contribuíram para a atrofiação do gênero tokusatsu nos eventos de Fortaleza. A cada ano fica mais difícil divulgar e o que ainda sobrou nos eventos caíram no desalento.
Nada é impossível, desde que haja união, boa vontade, informação, estratégia de mercado e interação para tentar reaproximar o antigo público ou mesmo renová-lo. Nada contra o evento Sana, veja bem. Tenho bons amigos que são coordenadores de lá e que também colaborei com eles (bem como alguns outros eventos da minha cidade) e a minha intenção não é criar atritos. Esse texto tem a finalidade de incentivar esse e até outros grandes eventos do Brasil a acreditarem no potencial do tokusatsu. O nicho é relativamente pequeno diante de fãs de anime e mangá, mas possui um forte potencial a ser acreditado e explorado.
Como citei acima: é possível conciliar a cultura pop japonesa com a sul-coreana e com a ocidental, desde que as origens sejam resgatadas, renovadas e aprimoradas. Ver e rever os pontos que podem melhorar sem desistências/inconstâncias. Além do mais, a gente pode tirar o Rio de Janeiro como um excelente exemplo. No mês passado houve a primeira edição carioca do AF com atores japoneses e show de Ultraman. A fórmula “deu samba”, mesmo para uma capital que não tem grandes tradições de popularidade em eventos de cultura pop japonesa. Ou seja, a cidade maravilhosa tem tudo para seguir a mesma receita de sucesso da edição paulista.
Se a estreia deu certo lá, por que não (voltar a) investir em tokusatsu no lado de cá? Fica a dica. 🙄
Nem em animes e mangás o SANA investe mais direito. Aquela “sala de exibição” continua uma lástima, e chega a ser ridículo que depois da consolidação da Crunchyroll com estandes no AF, o SANA ainda não tenha também um para divulgação desse serviço dentro do SANA, com oferecimento de descontos para quem aderir à assinatura no evento, produtos oficiais, exibições exclusivas de novos animes dublados, sem falar de lojas de mangás e HQs que não oferecem descontos para edições raras ou esgotadas que são vendidas a “peso de ouro” no ML, OLX e lojas oportunistas como a Comix.
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aqui ,no parana segunda maior colonia de japoneses do brasil temos muitas cidades com festivais da cultura japonesa , organizadas pelas chamadas associaçoes nipo brasileira , cidades como londrina e maringa e apucarana .tem festivais anualmente grandiosos. mais . infelizmente eventos como animefriens que eu saiba houve um evento em maringa mais faz tempo.
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