
Nosso nicho é extremamente complicado desde os tempos do Orkut, com picuinhas como “Power Rangers x Super Sentai” e coisas do tipo. Graças à ascensão de páginas e canais sérios sobre tokusatsu, esse ódio diminuiu bastante nos últimos anos. Quem ainda defende que uma adaptação ocidental é “cópia” da versão japonesa, está pedindo para passar vergonha alheia. Existe informação, conceito e até aprovação dos próprios estúdios japoneses. É uma obviedade ululante dizer isso.
Na quinta-feira da semana passada participei de um debate no canal TokuDoc, onde troquei ideia com companheiros de produção de conteúdo sobre a evolução do fandom de tokusatsu no Brasil. Fiquei animado pela repercussão, pois o papo foi descontraído, sincero e sem pretensão de causar polêmica (entenda: lacrar). Pelo contrário. Nossa intenção é unir os fãs.
Mas como eu escrevi neste editorial de novembro de 2018, nem todos que são ditos “fãs” de tokusatsu promovem a união e talvez jamais entendam esse valor. Foi o que aconteceu no dia seguinte, quando um certo podcast – de ativismo aguerrido – lançou uma edição com um clássico vilão de tokusatsu carregando uma faixa presidencial. Não vou entrar no mérito ideológico da coisa, mas a intenção por si só foi oportunista. A alegação do tal grupinho era de que as séries tokusatsu também “têm política”, além de um suposto totalitarismo.
É legítimo que alguma ou outra série tenha alguma abordagem sobre política. Mas isso não pode ser confundido com militância de A ou B. É apenas uma abordagem contextualizada ou mesmo fictícia. Um bom exemplo é o episódio 38 de Solbrain, no qual havia referências ao nazismo e várias aparições da suástica (algumas delas desenhadas com sangue). Se você for um bom entendedor, vai sacar que o tal episódio não fez nenhuma apologia, mas era uma fantasia desambiciosa que contava a história de um espírito de uma oficial alemã.
Como eu disse acima, eu não vou e não me interessa entrar em discussões ideológicas. Aqui não é o local mais apropriado, não é relevante para o fandom e isso deve ser discutido longe daqui e por pessoas adultas. Posicionamento político é igual a umbigo, cada um tem o seu. Mas é preciso que se diga que é lastimável ver brasileiros depositando confiança demasiada em políticos ao invés de cobrá-los. Eles pensam em si próprios e vendem mundos e fundos. Os cidadãos deveriam valorizar seus princípios e lutar por eles – com cautela, prudência, paciência e sabedoria.
Dito isso: é inaceitável a posição de um jornalista que recentemente declarou nas redes sociais perseguição contra influenciadores de tokusatsu que são isentos e cobrando posicionamento. Mas ele não vai conseguir. Meus canais continuarão com a mesma independência de sempre e não se curvarão para quem dão recado de “paz” e em seguida promovem uma guerra, colocando seus interesses acima do que é mais revelante para o nicho do tokusatsu. E cá pra nós: imaginem um revolucionário como esse no poder. Pior do que está ficaria – e do jeitinho que o diabo gosta. Como jornalista, ele deveria seguir o conselho do saudoso Carlos Chagas (da extinta Rede Manchete): estudar história e aprender que os regimes como os de Hitler e Mussolini foram derrotados.
Pelo mal exemplo do último fim de semana, sou contra todo e qualquer tipo de politização binária, tribal e jacobina, seja do lado que vier. Quem não ajunta, espalha. Cada coisa deve estar em seu devido lugar. Tudo o que nosso sequelado fandom não precisa é de uma polarização política e “inimigos em potencial” para rachá-lo de uma só vez.
Precisamos de mais produtores de conteúdo pacíficos e que promovam a unidade e bom senso. 🙂
Parabéns pela postagem cara, penso da mesma forma.
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texto de corno do caraio
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Melhor comentário.
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Exatamante, cada um tem sua escolha de se posicionar ou não. E eu não vejo necessidade de abordar politica nos canais de comunicação de tokusatsu, afinal, se eu quisesse ver isso eu ia em blogs politicos, canais de opinião de atualidades ou vloggers cujo o conteudo seja opinar sobre a vida pessoal enquanto fazem miojo.
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Exatamente. Isso é liberdade de expressão. É um direito que nos assiste.
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Oi césar é por isso que gosto do seu blog
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Ótimo texto hoje em dia as pessoas quer colocar política em tudo
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Pensamos igual! Política não precisa ser debatida em um meio onde o foco é apenas se divertir!
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Exatamente. E digo mais: existe um abismo entre tratar de questões políticas numa ficção e fazer palanque para se promover e mentir sobre quem discorda de tais oportunismos. O nosso fandom precisa de união, independente de raça, origem, religião e opção política.
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Belo texto, triste ver isso não só acontecer com o meio de Tokusatsu, mas como no meio nerd como um todo.
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Ninguém é obrigado a se posicionar, mas entendo que quem assim o deseja tem o direito de fazer. Antes de fã, seja lá do que for, somos cidadãos. Na conjectura atual, quem fica em cima do muro leva pedrada dos dois lados. Peguemos a pandemia como exemplo: tinha canal famoso no meio adotando o discurso que “estavam exagerando” quando determinaram lockdown onde ele mora. Aí, quando começaram a empilhar corpos perto da casa do cidadão, ele fez de conta que nunca tinha dito nada e passou a dizer que todo mundo tinha que se proteger, etc… Até dá para argumentar que foi desconhecimento da situação, mas ainda assim, foi um posicionamento bem inconsequente. A real é que quem está pedindo para “não misturar as coisas” foi quem comprou gato por lebre e agora está querendo descolar a imagem do posicionamento que adotou anteriormente. Em relação especificamente a política, tem que se falar sim. Seja no meio do tokusatsu, do esporte, da música, da PQP. Adotar a ideia de que é um assunto sagrado demais para ser discutido foi o que nos colocou na situação atual. Tem que discutir sim, cada vez mais, inclusive ouvindo o contraditório. Sociedade civilizada discute política, religião, futebol e tudo mais.
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O problema está ai então,não acho que sejamos nada civilizados para discutir tais temas.
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Oi, João Renato. Então, cada um tem sua opção de se posicionar ou não. Como vc mesmo disse, quem não quer se envolver leva pedrada dos dois lados. E lhe digo mais: acaba sendo alvo de teorias conspiratórias e julgado pelo campo das ideias. Agora, não se trata de “comprar gato por lebre”, mas sim de ceticismo político. Como eu disse acima, todo político pensa em si próprio e vende mundos e fundos. O que eu critiquei no texto foi o oportunismo de certos criadores de conteúdo que apontam o dedo para quem não se tornou “instrumento” deles e virou “inimigo”. Isso é uma tática manjada pra impedir qualquer tipo de debate com argumentos e rotular seus “adversários”. Ou seja, causa divisão e polarização. Não é isso que é pregado no tokusatsu. É disso que se trata. Discutir é viável sim, mas cada macaco no seu devido galho.
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