
No dia 20 de janeiro de 1991, a TV Asahi exibia o primeiro episódio da Super Equipe de Resgate Solbrain (Tokkyu Shirei Solbrain, de 1991). Sequência de Winspector, a série teve 53 episódios e foi a segunda da trilogia Rescue Police Series (finalizada com Exceedraft, inédita no Brasil). Também foi a última série Metal Hero a passar por aqui e a penúltima a estrear na extinta Rede Manchete em 12 de junho de 1995.
Com um teor mais dramático e com alguns episódios carregados de violência, Solbrain transmitiu várias lições que podem e devem ser refletidas nos dias de hoje. A principal missão da segunda equipe comandada pelo Chefe Shunsuke Masaki era “salvar a vida e os corações perdidos dos homens“. A ideia surgiu no último episódio de Winspector, inspirando o chefe de polícia na criação do mais avançado esquadrão de resgate de então. De longe, é um dos melhores clássicos que já passaram por aqui.
Para celebrar os 30 anos de Solbrain, este texto lista dez episódios que ensinaram lições a serem relembradas e absorvidas. Ao final da descrição de cada episódio, seguem os seus respectivos princípios e quotes marcantes. Plus up!

Episódio 8 – O Desaparecimento da Roupa Especial
Dois policiais, que foram candidatos a comandante do Solbrain, são os antagonistas do caso de roubo da Proto Suit (idêntica ao Solid Suit de Solbraver). Após um ataque contra o Chefe Masaki, as pistas apontam o ex-superintendente Katsuhito Sasamoto como suspeito. Daiki aceita o desafio do “falso” Solbraver e tenta resgatar a armadura, que possui um limite de tempo menor que as Solid Suits. Orgulhoso, Sasamoto foi salvo por Solbraver, após seu tempo de uso da Proto Suit esgotar. Após a luta, Solbraver ainda teve que salvar uma garotinha de um incêndio, no mesmo local de batalha contra Sasamoto. Sasamoto teve que aprender, na dor, o valor da vida humana e entender o porquê de não ter sido escolhido como capitão da Super Equipe de Resgate. Sasamoto foi interpretado por Junichi Haruta (MacGaren em Jaspion).
Princípio: Todas as vidas humanas são importantes. Essa é uma das principais missões de Solbrain. Infelizmente, Sasamoto era um policial que desprezava os homens e os fazia de escada para tentar obter status. Ele não tinha a mesma bravura, força e coragem de Daiki para salvar até mesmo uma criança – pequena e significativa vida – de um incêndio, da qual ele havia zombado. Até mesmo a vida de um criminoso como Sasamoto foi salva por Daiki com muito custo. Tais qualidades de Daiki foram valiosas para que ele se tornasse o capitão da Super Equipe de Resgate, enquanto Sasamoto não tinha quaisquer qualificações, pois não admitia perder.
“Aquele que não conhece a frustração, sofre. Mas aquele que supera a frustração, se fortalece. Solbrain acreditava que a lágrima de Sasamoto seria a resignação e o início de uma nova etapa de vida.” Narrador da série.

Episódio 10 – Os Velhos Incendiários
Jun salva Okada, um idoso de um ataque de uma gangue de motoqueiros. Mas o que o policial não sabe é que Okada é candidato a um cargo de uma firma de faxada, que usa idosos, vítimas da Segunda Guerra Mundial, para promover incêndios criminosos contra vários estabelecimentos do Japão. Masaki Sudo, o dono desta firma, carrega uma cicatriz no rosto e sua principal motivação é uma vingança contra Genzo Sakuragi, que havia assassinado sua família. Sudo fracassou em sua vingança e acabou morrendo. Enquanto isso, Jun teve a difícil tarefa de prender Okada e seus parceiros incendiários.
Princípio: Os velhos eram boas pessoas, mas foram coagidos por um criminoso. O crime não compensa e nada justifica destruir uma civilização “pelo próprio amor“, como disse um dos incendiários, e nem por vingança. Os métodos importam. Jun, por mais que sofresse por prender um idoso seduzido por uma causa que carrega um modus operandi abjeto, teve que cumprir a lei.
“O coração de Jun estava triste e por muito tempo não vai esquecer esse momento doloroso. Jun Masuda, 22 anos, passou uma fase triste nesta primavera, prendendo os criminosos.” Narrador da série.

Episódio 17 – Os Fugitivos Algemados
O esquadrão de resgate monta uma operação proibida para fazer com que o criminoso Tetsuya Nagata revele o nome por trás de uma série de assassinatos. Para isso, um acidente de ônibus é forjado. Daiki se disfarça de bandido e se algema com Nagata, e ambos se tornam fugitivos. Enfrentando o perigo, Daiki tenta conquistar a confiança de Nagata, que, apesar de se envolver numa organização criminosa, não matou ninguém e fazia isso para obter dinheiro (sujo) para sustentar seu filho. Daiki tenta convencê-lo a não fazer isso. Ao enfrentar os mafiosos, Daiki pede para Nagata fugir, acreditando na sua recuperação. Com a solução do caso, Nagata devolve o dinheiro e começa uma nova vida longe do crime. Nagata foi interpretado por Ryosuke Sakamoto (Red One em Bioman).
Princípio: Nagata não matava ninguém, apesar de seu envolvimento com a máfia. Para ter algum reconhecimento de seu filho, ele queria o dinheiro. Mas esse não era o caminho correto e só deixou sequelas, como a separação de sua esposa e o distanciamento de seu filho. Daiki, disfarçado de bandido e algemado com ele, confiou nele, acreditando que ele poderia se regenerar e viver dignamente com seu filho.
“Daiki tirou o homem do caminho errado usando palavras mágicas e arriscando sua própria vida. O lema do Solbrain é acreditar no homem até o último momento.” Narrador da série.

Episódio 20 – A Triste Algema
Um habilidoso assassino rouba armas de uma base militar e mata jovens que estiveram envolvidos na morte de uma estudante. Durante a investigação, Daiki suspeita de Kosugi, seu antigo instrutor. Descobre-se que a garota morta no atropelamento é a filha adotiva de Kosugi. Contrariando a ordem de Masaki, Daiki está disposto a prender seu próprio mestre, que persegue implacavelmente um filho de um senador. Diante de um pôr do sol, Daiki prende Kosugi e compreende o que ele sentia. Era necessário prender um coração triste. Kosugi foi interpretado por Joji Nakata (Kaura em Flashman).
Princípio: Daiki aprendeu com Kosugi que “o criminoso também tem coração“. E era preciso algemar o coração triste de seu instrutor, que estava revoltado com a morte de sua filha e arriscando até mesmo os policiais e o pai do jovem delinquente, em nome de sua vingança. O que Daiki não esperava era ter que prender Kosugi. Mesmo assim, o capitão não se deixou abalar pela queda de seu mestre. Ele soube superar essa provação.
“O homem é uma criatura muito triste. Quando a tristeza é grande, é fácil cometer crime. Mas tirar a tristeza do criminoso é muito difícil para a policia. É difícil, é difícil. Mas lembre-se que o criminoso também tem coração. No entanto, o que pode ser feito é algemar o coração triste e não as mãos. E deixe gravado isso no seu coração.” Kosugi para o jovem Daiki.

Episódio 23 – Do Winspector ao Solbrain
Terceira e última parte do arco que contou com a volta do Esquadrão Especial. Liuma/Fire, Biker e Highter estão em uma missão secreta para deter Messayer, um super robô capaz de se transformar em qualquer ser humano. O mecanismo de destruição de Messayer está ativado. Há dois pontos de vista conflituosos nesta corrida contra o tempo. Liuma quer eliminar Messayer a qualquer custo. Porém Daiki acredita que o robô possa ter algum sentimento humano. É revelado que o cérebro de Messayer é de um turista que morreu em um acidente. Solbraver tenta impedir Messayer usando a Giga Stream (Giga Streamer), a arma mais poderosa de Fire, mas ele não consegue atacar um robô que possui lembranças de sua família. Carregando uma profunda tristeza por não poder rever sua esposa e filha, Messayer se sacrifica. Liuma entrega a Giga Stream para Daiki, com a finalidade de proteger a humanidade.
Princípio: Os pontos de vista de Liuma e Daiki eram divergentes, porém eles precisavam trabalhar juntos para alcançar o objetivo. Nota-se que ambos tinham um recíproco respeito entre eles. Liuma acreditava que não errou na sua maneira de agir, mas aprendeu com Daiki “o quanto a vida tem valor“. Apesar do sacrifício de Messayer, Daiki conseguiu salvar o coração do androide, pois ele abandonou esse sentimento de vingança.
“Sabe, as leis da vida são muito complexas. Nós lutamos pela paz. Mas por trás, existem pessoas que friamente criam vítimas como Messayer.” Chefe Masaki.

Episódio 33 – Quando o Herói Chora!
Quando Daiki e Jun perseguem três adolescente ladrões, eles são surpreendidos por Kohei, um jovem recém-saído do reformatório. Kohei ensina ao trio uma falsa lição: “Um herói nunca fraqueja, não derruba lágrimas, jamais“. Eles acabam se envolvendo num roubo de um perigoso explosivo, encabeçado pelo terrorista Kousuke Doi. Daiki, que conhece o passado de Kohei, se determina a prendê-lo, para que possa ter dignidade no futuro. Kohei pede ajuda para o comandante da Super Equipe de Resgate para salvar os garotos, que estavam como reféns. Após a solução do caso, Kohei é condenado a voltar ao reformatório. Mas antes, Daiki pede a ele para que chore na frente dos garotos, como desligamento de seu passado. Sem dúvida, a cena é um dos momentos mais emocionantes da série. Doi foi interpretado por Yutaka Hirose (Wandar em Flashman).
Princípio: Kohei havia ensinados as crianças que um herói não deve chorar, segundo sua narrativa. Ledo engano. Antes de voltar para o reformatório, Kohei aprendeu com Daiki que ele deve chorar, pois “é realmente herói aquele que consegue chorar, quando é preciso chorar“. Era necessário que seus jovens admiradores se decepcionassem com ele ao vê-lo chorar, pois assim eles não o teriam mais como inspiração para enveredar no mundo do crime. Daiki acreditava na sua regeneração.
“As lágrimas que rolavam era do verdadeiro herói. Dessa vez, com certeza Kohei há de se levantar. Daiki estava convicto disso.” Narrador da série.

Episódio 38 – Convite à Morte
Misteriosos casos de suicídio e eventos sobrenaturais chamam a atenção da Super Equipe de Resgate. Tudo está ligado à figura nefasta da Mulher de Riga, uma antiga serva de Hitler que esteve envolvida numa morte em massa ocorrida na Letônia, durante o final da Segunda Guerra Mundial. Reiko recorre à Kazumi Murayama, uma antiga colega de colégio, cuja o pai havia comprado um quadro da Mulher de Riga e foi assassinado. Ako Kuji, uma colecionadora de quadros, é uma sinistra mulher obcecada pela peça que ocultava a alma penada da mulher domadora. Para vingar a morte de seu avô, que era adepto de Hitler, Ako evoca o espírito da Mulher de Riga. Solbraver e cia derrotam o espírito maligno e destroem o quadro amaldiçoado. Episódio polêmico/controverso (reprisado várias vezes numa emissora de família judia, inclusive), mas que foi feito sem apologia e misturando contexto histórico com fantasia. Em outras palavras, a figura do nazismo de Hitler era associada ao demônio nesta analogia da luta do bem contra o mal.
Princípio: O nazismo, assim como todo e qualquer regime totalitário e genocida, deve ser veementemente repudiado. Ako manifestou um espírito cheio de ódio e maldade. Entretanto, ela, que era adepta de um dos movimentos mais abjetos da história da humanidade, esteve sujeita à regeneração, assim como qualquer outro preso durante a série. Pois deve-se odiar o crime e jamais o homem, como assim diz o lema do Solbrain (ver o próximo tópico). A vítima pergunta para Daiki se a guerra continuará enquanto existir ódio entre os homens. Ele responde: “Não. Enquanto existir justiça dos homens (conforme a lei), nós nunca seremos vencidos pelo mal. Sempre venceremos“. Daiki lutava bravamente contra quem não respeita a vida sagrada dos homens e com sabedoria.
“Justiça e coragem. Este é o lema do Solbrain. Protegendo a felicidade dos homens, lute corajosamente, Super Esquadrão Solbrain!” Narrador da série.

Episódio 40 – A Armadilha para os Heróis
Jun é sequestrado por Koji Imai, que exige a presença de Daiki e Liuma (desarmados) para resgatá-lo. Soljeanne intervém na operação e é atacada por um superpoder de Imai. Por um lado, o caso tem a ver com a morte do filho de Imai. Por outro, há alguém por trás que está mirando contra o Solbrain. Após Braver e Knight Fire resolverem o caso, Ryuichi Takaoka (o grande vilão da trama) reaparece e mata Imai, que estava sob hipnose. Takaoka também confessou que a morte do filho de Imai foi premeditada. Tudo isso para incitar o ódio dos policiais contra ele, uma vez que isso fere a máxima do esquadrão de resgate. Takaoka foi interpretado por Masaki Terasoma (a voz original de Shadow Moon em Kamen Rider Black).
Princípio: Mesmo Daiki, com sua integridade, sentiu ódio por Takaoka, que matou uma criança. Mas esse sentimento é proibido, principalmente quando luta-se pela justiça e independente dos atos criminosos de quem cometeu. “Só deve odiar o crime“, disse Masaki para Daiki após a missão.
“O policial deve odiar o crime, não deve odiar o homem.” Chefe Masaki.

Episódio 42 – A Vingança
O Solbrain pode ser dissolvido caso o deputado Ginjiro Toyama seja reeleito. Para engajar sua campanha, ele conta com a ajuda do conselheiro Ken Nakata, que acabara de chegar dos EUA e também é um antigo colega de Masaki. A campanha de Toyama sofre várias tentativas de atentado e o motivo vem de longa data. Toyama foi responsável pela morte do pai de Nakata, que era seu conselheiro de campanha 20 anos antes. Com a vitória de Toyama, Nakata tenta matá-lo pessoalmente, mas é baleado pelos capangas do político. Masaki chegar tarde na cena do crime e Nakata morre em seus braços. Braver, Knight Fire e os outros policiais ajudam o chefe a prender Toyama.
Princípio: Esse episódio é um bom exemplo que mostra a importância de se ter ceticismo político. O deputado Toyama fazia discursos populistas sobre paz, lutava contra corrupção, sendo que ele mesmo era um criminoso. Por outro lado, Toyama era o alvo de Nakata, pois seu pai foi assassinado por ele. Nakata acabou morrendo nas mãos de Toyama, deixando uma profunda tristeza em Masaki. A vingança não é a saída.
“Masaki estava com o coração cheio de tristeza. Um crime que roubou seu amigo, feriu o amor e gerou a tristeza. O Chefe Masaki jurou acabar com isso, principalmente como comandante da Solbrain.” Narrador da série.

Episódio 53 – Super Equipe de Resgate Solbrain, até o Próximo Encontro!
Faltando poucos dias para o encerramento de suas atividades, o Solbrain corre contra o tempo para prender Takaoka. O vilão usa Kazuya Sato, um jovem de 26 anos que teve seu pai assassinado por Nakai há cerca de duas décadas. Nakai cumpriu sua pena, formou uma família e seu filho, Issamu, acabou se tornando amigo de Kazuya. O ódio de Kazuya crescia sempre quando via sua mãe num debilitado estado de saúde. Issamu é raptado por Kazuya e Braver e seus companheiros partem para salvá-lo. Sem coragem para matar Issamu, Kazuya esfaqueia Takaoka. Masaki, Daiki e Liuma enfrentam o combalido vilão, que estava unido a um supercomputador que alimentava o seu ódio contra os homens. Assim como seus pais no passado, Takaoka morre envenenado. Apesar da melancolia, Kazuya e Nakai se reconciliam. Após a última missão do Solbrain, o esquadrão de resgate é finalmente dissolvido. Daiki, Reiko e Jun são transferidos para outras cidades do Japão. Um novo sistema policial estava prestes a ser inaugurado, incluindo treinamento de policiais para usar Solid Suits similares ao de Solbraver.
“A missão do Solbrain é salvar a vida e salvar os corações perdidos dos homens. Mas só não conseguimos salvar o seu coração, Takaoka.” Chefe Masaki.
Princípio: Infelizmente Takaoka não se redimiu e dependia do supercomputador para odiar os homens. Por outro lado, Daiki compreendeu que ele não deveria mais carregar seu ódio por Takaoka, ao ver o estado de saúde da mãe de Kazuya. A lição que foi deixada no desfecho de Solbrain era o perdão entre o ex-assassino e o filho de sua vítima.
Infelizmente, Solbrain é uma série subestimada e praticamente esquecida pelo público brasileiro. Deve ser revisitada, pois a grande maioria dos seus episódios carregam reflexões profundas sobre a natureza humana. O homem pode se arrepender de seus crimes e se regenerar. Basta querer. 🙂
PS: Escrevi também esse texto sobre os 25 anos de Solbrain no Brasil.
Texto publicado originalmente em 12 de junho de 2020, na Coluna do Daileon#103, via site JBox (adaptado).
Muito bom.
CurtirCurtir
Ótimas recordações deste grande tokusatsu!
CurtirCurtir
Ah, como eu adorei ter visto a Satie de Kamen Rider no ep. 24 de Solbrain. Ainda mais no rio Tamagawa, o cenário mais filmado do Japão.
CurtirCurtir
Tenho visto pelo canal da Toei no vocêtubo mas como sou apressado estou adiantando episódios “daquele jeito” :p.
Eu diria que depois de um começo meio engessado, Solbrain melhorou muito. Deu pra ver a evolução do Koichi Nakayama. Começou meio “canastra” e ficou muito mais confortável no personagem.
CurtirCurtir