Fim do canal Loading é mais melancólico do que a extinção da Manchete

Foto: Divulgação/Loading

A noite desta quinta (27) ficou marcada pela notícia da demissão em massa de 60 funcionários do canal Loading. A Kalunga, principal patrocinadora e investidora da emissora, desistiu do negócio após quase 6 meses da inauguração da Loading. Segundo informações do site TV Pop, o encerramento da emissora já estava em discussão por acionistas desde abril.

Uma extinção de qualquer emissora popular deixa marcas na história da TV brasileira e nos telespectadores. A primeira grande extinção aconteceu em 18 de julho de 1980, quando o sinal da Rede Tupi saiu do ar por causa de problemas administrativos/financeiros e a intervenção do governo da época. Eu ainda não era nascido na ocasião. Um radialista amigo meu me contou uma vez, com detalhes, sobre sua cobertura jornalística e como isso afetou o público. A Tupi era muito querida e os espectadores ficaram muito tristes ao ver a primeira emissora do Brasil e da América Latina se acabar com uma mensagem de apelo dos funcionários, na voz de um locutor.

Após esse fatídico episódio, as concessões da Tupi foram passadas para o Grupo Sílvio Santos e o Grupo Bloch, que inauguraram a TVS (atual SBT) em 19 de agosto de 1981 e a Manchete em 5 de junho de 1983, respectivamente. A Manchete passou por duas crises, sendo a última a culminar em sua extinção em 10 de maio de 1999.

O processo dessa extinção foi longo, começando pela demissão de vários funcionários da Manchete em setembro de 1998 até a venda para o grupo Tele TV em 9 de maio de 1999. Eu já escrevi esse texto sobre a crise final da saudosa emissora carioca. Talvez ainda estivesse no ar se não fosse pelo altíssimo investimento de Brida, a novela que ficou sem final.

O público de séries japonesas que acompanhava a Manchete teve, digamos, leves dores. Enquanto os Bloch tentavam seguir em frente com uma parceria com a Igreja Renascer, se desfazia do negócio, vendia a emissora e transferia as concessões para o grupo Tele TV, estávamos entretidos com infindáveis reprises de Jiraiya, Shurato, Maskman e Yu Yu Hakusho.

Houve até uma fase de transição onde as séries japonesas entraram no meio do bolo dos infomerciais, mudando constantemente de horário (relembre aqui), até saírem do ar. A RedeTV!, que ainda estava em fase experimental e usando recursos da programação da Manchete, não fechou parceria com o sr. Toshihiko Egashira, dono da extinta distribuidora Everest Video, e ainda usaram as séries japonesas sem autorização na grade. A ficha caiu mesmo quando as séries já não estavam mais na programação a partir de 1º de novembro de 1999, exatamente duas semanas antes da inauguração oficial da RedeTV!.

A MTV Brasil também marcou época e, em julho de 2013, teve de anunciar a devolução da marca para a Viacom, que criou uma nova MTV que está no ar até hoje e voltada para a geração millennial. Com isso, a boa e velha MTV preparou uma programação nostálgica como preparação para o fim em 30 de setembro daquele ano. Foi uma despedida menos dolorosa, mas ainda assim deixou saudade para o público mais velho.

E eis que chegamos ao day after da notícia do vindouro fim do canal Loading, que deverá ocupar o sinal e as instalações da saudosa MTV Brasil ainda nas próximas semanas, com exibições de enlatados. Essa notícia é mais melancólica do que a própria extinção da Manchete, pois o projeto era promissor, audacioso, e causou uma grande expectativa para os amantes da cultura pop em geral.

O sonho de muitos fãs de animês e tokusatsu, principalmente, acabou de uma hora pra outra. Foi passageiro como um amor de verão. Embora houvesse evidentes problemas técnicos, a Loading era uma grande aposta no mercado de produções do tipo. Decisões acontecem e é absolutamente normal. Há risco em qualquer tipo de trade-off.

Foi bom enquanto durou. Fica aqui a minha solidariedade aos ex-funcionários da Loading.


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