O Orlando Drummond da minha infância

Orlando Drummond como Seu Peru, na fase clássica da Escolinha | Foto: Divulgação/Globo

Não importa a geração ou idade. Você já ouviu, com a absoluta certa, a voz de Orlando Drummond, um dos maiores dubladores do Brasil, que nos deixou nesta terça (27). De uma maneira particular, sua voz está presente na minha memória desde que me entendo por gente.

Não lembro qual exatamente foi o primeiro personagem, mas deve ter sido um pouco antes de 1990. Eu assistia TV desde pequeninho e personagens como Scooby-Doo, Popeye, Alf, o Pacato/Gato Guerreiro em He-Man, Gargamel em Os Smurfs eram meu entretenimento, entre tantos outros da época.

Lembro também de assistir a Escolinha do Professor Raimundo com meu pai, principalmente na versão semanal que era exibida nas noites de sábado, e Seu Peru, que era um personagem humorístico que ficou muito conhecido por ele, fora das dublagens. E o engraçado era que o Seu Peru tinha a mesma voz dos personagens dos desenhos que eu assistia, isso na minha tenra lembrança de um garoto com seus 4, 5 anos de idade.

No clássico Krull, Drummond empresou sua voz para A Besta | Foto: Divulgação/Columbia

Eu destaco aqui dois personagens que ainda vieram a marcar minha infância. Lá por volta de 1992 (acredito eu), meu pai desencalhou umas antigas fitas de VHS que ele tinha em seu acervo. Uma delas tinha uma gravação do filme Krull, exibido no Supercine, da Globo (provavelmente de uma exibição em 1986). O filme não é tão famoso quanto um Star Wars da vida, mas era quase um. Na realidade, a trama se passava em outro planeta, com características um tanto medievais.

Neste filme, Drummond era A Besta, um monstro que chegou ao planeta Krull através de sua Fortaleza Negra e sequestrou a princesa Lyssa, que estava prometida para se casar com o Príncipe Colwyn. Krull foi uma produção britano-americana que tinha efeitos especiais bem produzidos para a época, com uma dura e trágica jornada para Colwyn e seus aliados chegarem até à tal Fortaleza Negra. Tudo isso e mais a voz do Drummond interpretando A Besta foi marcante, pois o vilão tinha um visual sinistro e que dava muito medo.

Drummond interpretou o Sargento Garcia nas duas dublagens de Zorro | Foto: Reprodução/Disney

Mais tarde, a partir de novembro de 1996, passei a assistir a série clássica do Zorro, estrelada por Guy Williams (que mais tarde foi o John Robinson na série Perdidos no Espaço). Naquele mês, o sinal da Record entrou em definitivo aqui em Fortaleza, inicialmente pelo canal 14 UHF (houve uma fase de testes por aqui, no mesmo canal, entre 11 e 13 de agosto de 1995. Mas isso é uma outra história).

Como eu era viciado em TV e eu tinha informações sobre a emissora do bispo, eu matei aula mesmo pra ver a inauguração do sinal que entrou às 8h da manhã (com o programa Note e Anote, com Ana Maria Braga). Vendo os breaks comerciais, vi a chamada da série do Zorro e aguardei até às 20h30 pra assistir.

Aliás, a Record já exibia a versão colorizada por computador e por isso houve redublagem. É aí onde a voz de Drummond surge mais uma vez, desta vez como o cômico Sargento Garcia. Aquele sujeito atrapalhado, que cumpria as ordens do Comandante, que tentava capturar o Zorro e mal sabia que o herói de capa e máscara preta era seu amigo Don Diego de la Vega.

Só que Garcia era mais sério na primeira temporada e os produtores da Disney, à época da série, resolveram deixá-lo mais engraçado e ainda lhe deu de “presente” um fiel escudeiro, o Cabo Reys. A interpretação de Drummond deixou a imagem de Garcia, interpretado por Henry Calvin (Oliver Hardy na série O Gordo e o Magro), bem mais espirituosa.

Pelo menos essa é a minha lembrança de Drummond como o Sargento e isso tinha uma boa razão. Em tempo, o dublador havia interpretado Garcia na versão preto-e-branco exibida em 1963 pela extinta Tupi e reprisada em 1973 pela Globo. Ou seja, já conhecia bem o personagem. Há informações de que Drummond e Calvin se conheceram em 1970, quando o ator americano esteve por aqui.

Drummond é um patrimônio da dublagem brasileira e jamais haverá outro artista com a mesma versatilidade. Ele deixa um grande legado para a nossa cultura pop. Obrigado por tudo!


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