
Mesmo com seus altos e baixos, Kamen Rider Gavv continua sendo a melhor série tokusatsu da atualidade. Tudo bem que há elementos da temática de doces que causam certa indiferença em alguns fãs mais velhos do gênero. Mas se você acompanhar direitinho a trama, vai encontrar facilmente temas mais pesados e situações mais carregadas, como aconteceu no episódio deste domingo (15).
Dente Stomach, o simpático tio-avô de Shoma/Kamen Rider Gavv, foi chacinado por Glotta, sua sobrinha-neta mais velha. A marca de sua foice, encontrada no corpo de Dente, é a mesma que estava no de Comel, o falecido irmão mais novo de Rakia Amarga/Kamen Rider Vram. Por si só, isso é um bom gancho para o início da reta final da série.
Veja: Kamen Rider Gavv é uma série que utiliza a temática de doces para fins comerciais — atrair a criançada para comprar mais produtos. Poderia ser qualquer outra temática, que a série continuaria dramática e violenta da mesma forma. Claro que isso não é novidade no tokusatsu. O gênero aborda temas violentos desde sempre, de formas que variam a cada época.
E isso acontece agora em Gavv de maneira mais equilibrada, sem perder o carisma que a trama construiu nestes 9 meses de exibição. Por um lado, tratar de chacina pode parecer algo mais pesado, como nos clássicos, por exemplo, Winspector. Por outro lado, essa carga dramática é um “mal necessário” para Kamen Rider Gavv.
O episódio da semana foi longe demais para os padrões atuais do tokusatsu, e é bom que haja mesmo essa quebra. Não para incentivar a violência para as crianças. Muito pelo contrário, e isso jamais foi a intenção das produções de tokusatsu. Mas sim mostrar que a realidade pode ser dura e cruel em alguns momentos da vida, mesmo que tudo seja retratado numa fantasia.
Quem subestimou Gavv por causa dos doces, se enganou redondamente. E isso também vale para este colunista que achou o primeiro episódio estranho, mas que depois deu uma chance. Meu arrependimento é zero.
gavv é uma das melhores dessa nova leva o arco do suga foi fraco não curti mais isso não tira o brilho dessa série que acerto
CurtirCurtir
Gavv não para de entregar boas tramas. Depois da resolução do arco do Hanto – e que belo desfecho (trágico, mas belo) -, eles conseguiram entregar outra trama que me pegou. Desta vez, eles conseguiram me comover com o Lakia e, pasmem, Glotta. Ambos de forma diferente, mas a partir do mesmo sentimento: a falta de controle sobre a vida e impotência sobre o tempo.
O arco do Lakia já estava colocado e parecia meio óbvio, mas em uma frase os roteiristas conseguiram colocar uma nova nuance. Quando ele fala que não percebeu o Tio Dente doente assim como não tinha percebido que o Komel se viciou nos doces sombrios, aqui dialogou diretamente com o adulto em mim.
Quantas vezes você não está tão ocupado de outras coisas – e preocupações justas (trabalho, estudo etc.) – e acaba não percebendo que alguém que você gosta adoeceu? Já tive colegas que se afundaram em vícios – um deles morreu – e acho que não é exagero dizer que nesse momento a tristeza pela impotência e a sensação de que poderíamos ter feito mais por alguém é horrível.
Esse “clique” que o Lakia tem no episódio pegou muito em mim. Acrescenta mais uma dinâmica a um personagem que (como o Hanto e Shouma) está encontrando seu próprio tipo de redenção – no caso dele, entender que nada vai trazer o irmão de volta, mas que há mais na vida que merece sua atenção e carinho.
Quanto à Glotta, não acho que a personagem em si tenha um arco, porém não soa estranho o drama que a personagem vive: perceber que seu mundo está desmoronando como simples consequência da maldade de sua família. Ao perseguirem o Shouma e destratarem a dor de Jiip, os Stomach provocaram, um a um, o próprio fim.
A impermanência das coisas – que se mostra tanto pela morte dos irmãos quanto pelas mudanças provocadas pelas mudanças na Stomach Inc. – não se resolve por meio de somente de força bruta e violência (as principais formas de interação de Glotta), seja porque ela não é mais a mais forte seja porque a força por si só não reverte a morte e as mudanças da vida.
Esse drama de se encarar fraco e comum como Shouma foi a vida inteira – e, em última instância, como todos nós, humanos – é uma boa saída dramática para uma personagem que parecia não ter muito a se explorar. E isso é um acerto da série – quem imaginaria que Jiip e Glotta, no fim das contas, seriam os personagens mais explorados da família Stomach?
Enfim, fica aqui o elogio novamente à cobertura da série e espero que possamos caminhar até o fim com essa que, pra mim, já é dos melhores tokusatsu que eu já vi (até agora, o Kamen Rider que mais gostei). ABS!
CurtirCurtir