Digimon Adventure: clássico original estreou no Brasil há 25 anos

Digimon foi o animê com a divulgação mais agressiva no mercado brasileiro | Divulgação: Toei Animation

Quem tem mais de 30, 35 anos viu o boom de Os Cavaleiros do Zodíaco e Pokémon. Mas, se tratando de um alinhamento entre TV paga e TV aberta, nunca vimos algo semelhante ao que aconteceu com Digimon Adventure, que estreou no Brasil há exatos 25 anos. Em 3 de julho de 2000, o animê ganhou lançamento pelas emissoras Globo e Fox Kids — antes, houve uma pré-estreia na noite anterior pelo extinto canal pago.

Meses antes da estreia de Digimon, não havia ainda expectativas de grande sucesso internacional para bater de frente com Pokémon, que era o grande destaque infantil no Brasil. Mas a marca Digimon tinha potencial. O animê foi trazido pela Imagine Action DaLicença, antiga distribuidora do licenciador Luiz Angelotti, que fez um grande trabalho de divulgação na imprensa, o que impulsionou ainda mais o nome da então nova série.

O empenho do marketing agressivo fez com que a Toei Animation reconhecesse a DaLicença como o maior agente do mundo, rendendo-lhe também vários prêmios internacionais. Em entrevista para o canal JBox TV, Angelotti explica o processo que levou Digimon a ser exibido na TV brasileira:

“No trabalho que fizemos durante esse período, surgiu o interesse da TV Globo na aquisição da série. Como a expectativa de lançamento na Fox Kids, na época, era muito grande e existia um potencial de mercado muito grande para essa marca, houve um acordo da TV Globo com a Fox Kids pra antecipar o lançamento, que era uma janela de três ou seis meses, se eu não me engano, após o lançamento na TV paga, pra TV aberta iniciar a veiculação da série. Então houve um acordo entre TV Globo e Fox Kids para que elas iniciassem na mesma data.”

Com isso, Digimon estreou primeiro na faixa matinal da Globo, logo no primeiro dia do bloco Férias Animadas. As exibições atingiram 16 pontos de audiência e renderam um segundo horário, a partir de 24 de julho — três semanas depois do lançamento. Na Fox Kids, o animê era exibido em dois horários: às 17h30 e às 21h30, de segunda a sexta. Havia também uma sequência alternativa de episódios aos sábados e domingos, a partir das 17h30.

Sorte a nossa que vimos Digimon pela versão japonesa, em vez da adaptação americana feita pela Saban (ufa!). Porém, infelizmente, o eletrizante tema “Butterfly“, cantado pelo saudoso Koji Wada, foi substituído por uma musiquinha sem graça da Angélica, baseada na versão gringa.

Quem acompanhava na Fox Kids poderia ouvir a canção ao apertar a tecla SAP. E lá ainda passava, nos primeiros episódios, “I Wish”, o primeiro tema de encerramento, que era interpretado por Ai Maeda, a voz original de Mimi.

A divulgação da marca foi bem mais elaborada do que Os Cavaleiros do Zodíaco, quando estreou em 1º de setembro de 1994 pela extinta Manchete numa jogada arriscada, mas que deu certo. A curto prazo, a DaLicença aproveitou a falha de estratégia comercial de Pokémon, que era demorada, para concorrer diretamente com o então carro-chefe da programação infantil da Record.

Férias de verão

Tudo começa no dia 1º de agosto de 1999, durante um acampamento das férias de verão. Sete crianças são transportadas para o Digimundo e cada um ganha um Digivice. Este dispositivo permite a transformação de seus respectivos Digimons. Ao contrário de Pokémon, onde os monstrinhos de bolso evoluíam em definitivo, em Digimon acontecia a Digievolução.

Ou seja, os seres digitais poderiam atingir uma forma suprema para lutar e voltar para a forma anterior. Até mesmo regredir para a forma primitiva, dependendo de alguns fatores. A série foi dividida em sagas e cada uma delas era antagonizada por Devimon, Etemon, os Mestres das Trevas e principalmente Miyotismon.

Sem dúvida, esta última foi a mais importante, pois o vilão conseguiu invadir o mundo real e deu bastante dor de cabeça para os heróis com seu poder das trevas. Essa saga criou uma atmosfera muito mais séria que o universo de Ash, Pikachu e cia. É que o embate entre a luz e as trevas era o chamariz da trama, além dos dramas pessoais de cada criança.

A saga de Miyotismon também foi um divisor de águas, pois apontou Kari, a irmã caçula de Tai, como a oitava criança digiescolhida. Seu parceiro Digimon era Tailmon, que outrora era aliada ao vilão vampiresco. O inesquecível clímax fez com que Agumon e Gabumon, os parceiros de Tai e Matt sofressem uma Mega-Digievolução para WarGreymon e MetalGarurumon, respectivamente. Ambos enfrentaram Venom Miyotismon, a forma demoníaca do vilão.

Após o clássico original

Os Digiescolhidos e seus parceiros Digimons | Divulgação: Toei Animation

Digimon tinha ótimo roteiro e não apenas elementos de informática foram essenciais para o sucesso por aqui, mas também por apresentar uma trama mais complexa que Pokémon. E isso combinou muito bem com a excelente dublagem carioca realizada pela extinta Herbert Richers. A série ajudou a sedimentar uma nova fase de animês na TV brasileira, que ainda estava engatinhando, junto com Dragon Ball Z (exibido na época pelas emissoras Band e Cartoon Network).

Digimon Adventure ainda teve uma segunda temporada que também estreou simultaneamente na Globo e na Fox Kids – em 2 de julho de 2001. Ainda nos tempos áureos, ambas também exibiram Digimon Tamers e Digimon Frontier, que foram temporadas isoladas. Além dessas, também vimos Digimon Data Squad (Digimon Savers) e a adaptação americana feita pela antiga Saban intitulada Digimon Fusion (Digimon Xros Wars).

Voltando a falar sobre a série clássica, tivemos Digimon: O Filme, lançado nos cinemas americanos em 6 de outubro de 2000 e que mais tarde veio para o Brasil direto-para-vídeo. Na realidade, o longa era uma adaptação dos filmes Digimon Adventure (1999), Digimon Adventure: Children’s War Game! (2000) e Digimon Adventure 02: Part 1: Digimon Hurricane Landing!!/Part 2: Transcendent Evolution!! The Golden Digimentals (2000).

Em 2010, a série original ainda ganhou lançamento em DVD pela Focus Filmes, mas apenas duas das pretendidas quatro boxes foram lançadas. Mas o material não tinha uma boa qualidade de imagem, ainda apareciam os títulos em português dos episódios, eyecatches limados e alguns episódios não tinham opção de áudio original. A impressão era de que a imagem foi baseada na matriz da versão exibida na TV paga.

Tai e cia voltaram na série de filmes Digimon Adventure tri., que se passava três anos após os eventos da segunda temporada. Os seis arcos estão disponíveis na Crunchyroll em formatos episódicos. Em 2020, foi ao ar um reboot chamado Digimon Adventure: (assim mesmo, com dois pontos) pela emissora japonesa TV Tokyo, com direito à transmissão simultânea pela Crunchyroll.

Vale a pena ver de novo

Por tudo o que representa, Digimon Adventure (o clássico original) estreou recentemente na Crunchyroll, em 25 de fevereiro de 2025 — disponível apenas com áudio dublado em português e legendas (mesmo sem o áudio original). A imagem é da mesma master antiga, em 480p, exibida originalmente na Globo e na Fox Kids.

Atualmente na Crunchyroll, Digimon Adventure faz companhia também com as séries Digimon Adventure 02 (2000), Digimon Tamers (2001), Digimon Frontier (2002), Digimon Adventure tri. (2015), Digimon Universe: App Monsters (2016), Digimon Adventure: (2020) e Digimon Ghost Game (2021).

*Texto publicado originalmente em 3 de julho de 2020. Corrigido e atualizado para os 25 anos da estreia do animê no Brasil.


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